O projeto
Cadastro contabilizou 189 acumuladores em Curitiba
O distúrbio comportamental que leva a acumular objetos ou animais afeta 189 pessoas só na capital paranaense, segundo levantamento preliminar do estudo conduzido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a prefeitura de Curitiba. Com financiamento da Fundação Araucária, pesquisadores e servidores públicos começaram há alguns dias a mapear os acumuladores da cidade e a traçar o perfil biopsicossocial deles.
O projeto surgiu devido às dificuldades enfrentadas pelas autoridades públicas em auxiliar os acometidos pelo transtorno. "A meta final é auxiliar na criação de políticas públicas voltadas para o bem-estar de acumuladores e animais", diz a médica veterinária da UFPR Graziela Ribeiro da Cunha, que é a coordenadora técnica do estudo.
Com base em denúncias feitas ao telefone 156 e à Rede de Defesa e Proteção Animal, equipes municipais de Saúde e de Meio Ambiente percorrem os bairros em busca de potenciais acumuladores. Eles começaram pelo Portão, onde vão vistoriar cerca de 20 pessoas até o fim deste mês, como conta o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Alexander Biondo. Os resultados do estudo sairão em setembro deste ano.
Compreenda
A Síndrome de Diógenes é uma desordem comportamental que afeta 5 em cada 10 mil pessoas acima de 60 anos, segundo pesquisa publicada na Lancet, um dos periódicos médicos mais importantes do mundo. Não existem estimativas oficiais sobre a incidência do distúrbio no mundo e no Brasil. principais sintomas são:
Isolamento social
Descuido extremo com a higiene pessoal
Negligência com limpeza da moradia
Comportamento paranoico
Colecionar objetos ou animais sem organização e responsabilidade
Juntar montanhas de lixo, objetos inúteis ou animais em casa não é apenas estranho. Trata-se de um sintoma da Síndrome de Diógenes, também conhecida como Acumulação Compulsiva, que afeta, estima-se, centenas de pessoas em Curitiba. "O acúmulo de objetos ou de animais é sempre um problema comunitário, pois afeta não apenas o colecionador como também toda a vizinhança", diz o diretor do Centro de Vigilância Sanitária e Saúde Ambiental da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Luiz Armando Erthal.
Para criar um protocolo de atendimento para esses casos, até então inexistente na capital paranaense, a prefeitura vem participando de um estudo conduzido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Hoje, de acordo com Erthal, as secretarias municipais de Saúde e Meio Ambiente ficam sabendo da existência dos colecionadores compulsivos por meio de denúncias feitas pela família ou por vizinhos da pessoa que sofre do distúrbio.
Na primeira visita, a equipe enviada tenta conhecer o morador e conquistar sua confiança. Nas próximas vezes, os técnicos apresentam o morador às equipes de outras secretarias e, por meio de conversas, tentam convencer a pessoa a mudar e a descobrir suas necessidades. "Só no fim é que marcamos uma limpeza, se a pessoa concordar", conta Liana Ludielli da Silva, bióloga e técnica da Vigilância Sanitária de Curitiba.
A maior dificuldade no trabalho com os acumuladores é achar suas respectivas famílias, que ou não existem ou estão em conflito com os doentes. "A família consegue com muito mais facilidade fazer a pessoa com o transtorno perceber a sua condição e tomar alguma atitude para mudar", frisa a bióloga.
A doença
Desde que foi identificado no início da década de 1970, o distúrbio foi batizado com o nome do filósofo grego do século 4 a.C. Diógenes de Sinope, que é sempre retratado como um mendigo e em companhia de animais.
O psicólogo comportamental Carlos Esteves lembra que o distúrbio entrou ano passado para a bíblia da psiquiatria o Manual de Diagnóstico e Estatística de Desordens Mentais (DSM-5) como um tipo de transtorno obsessivo compulsivo (TOC). "O transtorno altera a percepção do paciente e o acúmulo de objetos ou animais se transforma em um ponto de equilíbrio da vida da pessoa, proporcionando alívio rápido, porém passageiro", frisa Esteves.
Segundo o psicoterapeuta Tonio Dorrenbach Luna, inúmeras podem ser as causas que desencadeiem o distúrbio. "Os motivos mais frequentes são uma frustração mal trabalhada, alguma perda emocional forte ou o convívio com o mesmo padrão de comportamento desde a infância", aponta Luna.
"Sofro com a incompreensão", diz morador do Guabirotuba
João Maria Xavier, 47 anos, é um sobrevivente de guerra com uma paciência de Jó, como ele se autodescreve. Apesar da companhia de nove gatos e de seu cão de estimação, mora sozinho na casa em que cresceu no Guabirotuba, mas aproveita pouco dos 90 metros quadradas de sua morada. As bugigangas que ele coleciona há 10 anos são tantas que só lhe resta o forro da casa para dormir. "De lá de cima eu vigio toda a quadra", afirma orgulhoso, apesar de reclamar de pequenas dores, provavelmente causadas pelas noites passadas no forro.
Para satisfazer suas necessidades mais imediatas, Xavier faz trabalhos de jardinagem e vende os objetos que coleta, que vão de anões decorativos de jardim a painéis abandonados de igrejas. "Trago o que consigo carregar. Tudo tem seu valor e não gosto de desperdiçar nada", confidencia. Ele garante: não é doente e todo mundo tem seu pequeno vício. "Eu comecei a reciclar materiais porque quis testar a sociedade", explica, lembrando com tristeza de algumas desilusões amorosas e de um grande desentendimento familiar que o fizeram viver só.
Hoje ele se arrepende um pouco de ter tomado esse rumo e reclama que há três anos tem se sentido perseguido. "Todos querem mudar a minha vida, todo momento. Eu não quero. Só preciso de uma pequena ajuda e não de que fiquem apontando meus possíveis erros e defeitos", desabafa Xavier.
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