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Ex-presidente da Fiocruz

Falta de vacinas expõe incompetência dupla de Nísia em 2024

Apesar dos cinco anos como presidente da Fiocruz, Nísia Trindade aparentou ter sido pega de surpresa pelos problemas de falta de vacinas. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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A gestão de Nísia Trindade como ministra da Saúde em 2024 ficou marcada pela falta de vacinas em todas as regiões do Brasil e por um prejuízo de R$ 1,7 bilhão em imunizantes vencidos. O cenário surpreendeu a própria esquerda e gerou bastante desgaste na pasta, principalmente pelas promessas eleitorais do governo pró-vacinação e “pró-ciência” e pelo perfil de Nísia de experiência no setor.

Apesar dos cinco anos como presidente da Fiocruz, inclusive no período anterior ao ocupar o cargo de ministra, Nísia aparentou ter sido pega de surpresa pelos problemas de desabastecimento de vacinas. Como foi presidente da instituição, ela não só tem familiaridade com o funcionamento das produtoras de imunizantes do Brasil, como tem acesso às pessoas que estão à frente das fabricantes.

Em gestão de Nísia, 65,7% dos municípios ficaram sem vacinas importantes do PNI

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostrou, em outubro deste ano, que 65,7% dos municípios brasileiros enfrentavam desabastecimento de imunizantes. Vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI) como tríplice viral, hepatite A, meningocócica C e ACWY, DTP (tríplice bacteriana infantil), entre outras, não chegaram a milhares de crianças brasileiras. Doses dessas vacinas protegem crianças contra doenças que podem ter manifestações graves como meningite, rubéola, caxumba, coqueluche e tétano.

Além do desabastecimento, o governo Lula registrou a perda de 58,7 milhões de imunizantes vencidos desde que o presidente tomou posse em 2023. O infectologista Francisco Cardoso destacou que a falta de vacina em alguns estados do Brasil e a perda de imunizantes vencidos demonstram falhas na logística feita pelo ministério da Saúde. "Pode ter havido erro na distribuição regional ou uma baixa procura local, resultando no acúmulo e vencimento das doses", explicou Cardoso à Gazeta do Povo em outubro.

Em resposta à CNM, o ministério da Saúde atribuiu o desabastecimento na produção de vacinas a problemas de controle de qualidade e de embalagens. “Biomanguinhos/Fiocruz enfrentou um problema de qualidade no início do ano, ocasionando atrasos no cronograma de entregas, impactando o estoque do Ministério da Saúde”, respondeu a posta em nota à CNM sobre a tríplice viral. Apesar de sua longa trajetória na Fiocruz, Nísia parece ter sido surpreendida pelos desafios de abastecimento.

Vacina da dengue também causou transtorno ao governo Lula

O aumento de 400% de casos de dengue no Brasil também marcou a gestão do ministério da Saúde em 2024. O país registrou 6,6 milhões de casos até o mês de dezembro. Foram confirmados quase 6 mil óbitos pela doença e outros mil estão sendo investigados. No ano anterior, 2023, o número de casos foi de 1,6 milhão. Os dados são do Painel de Monitoramento das Arboviroses, atualizado pelo ministério da Saúde.

A vacina da dengue, que começou a ser aplicada pelo Sistema Único de Saúde neste ano, também enfrentou problemas de distribuição. De acordo com o levantamento da CNM, o imunizante estava em falta em 120 municípios. Em junho, a pasta aumentou a faixa etária para receber a vacina e não perder as doses já compradas. O público-alvo, até então entre 10 e 14 anos, passou para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos.

Aborto, pauta identitária e culpa do “machismo da esquerda”

Os problemas de Nísia não se restringiram à falta de vacinas. O ano de 2024 do ministério da Saúde também foi marcado por decisões controversas e entrada em debates ideológicos que causaram desgastes à imagem do governo, especialmente no tema do aborto.

Em fevereiro, uma nota técnica, assinada pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde e Atenção Especializada à Saúde revogava o manual “Atenção Técnica para Prevenção, Avaliação e Conduta nos Casos de Abortamento”. Na prática, o governo Lula orientava tecnicamente que abortos previstos na legislação pudessem ser realizados até os nove meses de gestação e apoiava a prática de assistolia fetal. O método serve para matar bebês ainda dentro da barriga após a 22ª semana de gestação, quando há viabilidade fetal. Devido à repercussão negativa, o ministério da Saúde suspendeu o documento no dia seguinte. A pasta alegou que a nota foi publicada sem o conhecimento de Nísia.

O lobby identitário do governo Lula também esteve presentes em campanhas oficiais do ministério da Saúde. Em um post sobre período pós-parto, publicado em janeiro nos veículos da pasta, os termos “mulher” e “mãe” foram substituídos por “pessoa que pariu” e “corpo de quem pariu”.

Diante das pressões sofridas para sair do cargo, logo após a publicação da nota, a ministra chegou a culpar o “machismo”, “inclusive no campo da esquerda” durante uma entrevista à CNN Brasil.

“Com certeza a questão de gênero está mais do que evidenciada no meu caso apesar de até o momento eu não ter falado disso, mas não tenho a menor dúvida. Isso não diz respeito só a políticos de partido A ou B, isso nós vemos no próprio campo (da esquerda). Eu sou uma pessoa sem filiação partidária, mas sempre fui uma pessoa de posições de esquerda e eu vejo claramente que em qualquer ambiente manifestações do machismo existem”, afirmou a ministra em março, época em que sua exoneração foi mais cobrada pelas crises sucessivas enfrentadas pela pasta.

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