O Paraná tem menos delegados do que determina o Estatuto da Polícia Civil, que normatiza a atuação da categoria no estado. Levantamento feito pela Gazeta do Povo nos Diários Oficiais do Executivo mostra que faltariam pelo menos 54 delegados para se chegar aos 420 profissionais, número referendado pelo Estatuto em 1982, quando a população do Paraná não passava dos oito milhões de habitantes.
Os dados constam no Almanaque da Polícia, uma listagem nominal dos delegados de 2.ª, 3.ª e 4.ª classes publicada para que a categoria acompanhe o processo de promoção na carreira. O Almanaque relativo a 2008 foi publicado em junho de 2009, embora o Estatuto da polícia determine que a publicação deva ocorrer em Diário Oficial até janeiro. A listagem relaciona 373 delegados. Mesmo com a inclusão dos 42 delegados de 1.ª classe, que não aparecem no documento, chega-se a um total de 415 delegados número menor do que determina o Estatuto.
Mas a situação é pior, porque entre os nomes listados no Almanaque estão uma delegada que já estava aposentada, 13 delegados que ainda estão na Escola de Polícia Civil e outros 11 profissionais que constam no relatório como "sem designação" e, que portanto, não estão respondendo por nenhuma delegacia.
Apesar ter sido publicado em junho, o Almanaque trazia oito delegados que haviam se aposentado no primeiro semestre. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública justificou a inclusão afirmando que a publicação mostra apenas os dados referentes até dezembro. "Até o dia da sua publicação alguns podem ter se aposentado, falecido, exonerado ou demitido", diz o texto do e-mail enviado pela assessoria de imprensa do órgão como resposta.
Embora não atualize possíveis saídas após dezembro de 2008, o Departamento de Polícia Civil incluiu no Almanaque 55 delegados que, no final do ano, ainda estavam em treinamento na Escola de Civil e outros 12 aprovados no concurso da Polícia de 2007 que nem sequer haviam sido chamados para a escola e só começaram as aulas em maio, um mês antes da publicação do Almanaque.
Um desses delegados citados é Paulo Alexandre Rodrigues Coutinho, que atualmente trabalha como juiz em Sorocaba, no interior de São Paulo. Coutinho ficou dois meses na Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), de Curitiba, onde dividiu tarefas com outro delegado. "Fica nítida a defasagem do quadro em relação à demanda. É impossível dar um atendimento adequado. É como uma represa que daqui a pouco não vai dar conta", diz. Desde a saída de Coutinho, o delegado Armando Braga cuida sozinho dos cerca de 4 mil inquéritos que tramitam na delegacia.
Desde a publicação do Almanaque, outros 21 delegados pediram licença remunerada para fins de aposentadoria, aguardando apenas o Tribunal de Contas do Estado aprovar o pedido. Outros dois foram exonerados.
Como o Almanaque não traz a relação dos 42 delegados de 1º classe, a reportagem da Gazeta do Povo considerou que nenhum deles está afastado, sob licença, pediu aposentadoria ou foi demitido.
O tamanho da defasagem tende a crescer, pois outros delegados prometem pedir a licença nos próximos dias. É o caso do delegado Paulo de Castro, 56 anos, da Delegacia de Furtos e Roubos, que diz que vai dar entrada na papelada nesta semana. "Chega, né? Fiquei aposentado seis anos, voltei por um ano e pouco. Agora quero descansar", conta.
Outros 140 delegados que passaram pelo concurso aguardam convocação. Mas eles só devem ser chamados a partir de outubro, quando termina o curso para a atual turma em treinamento na Escola de Polícia Civil.
Uma das consequências da falta de delegados é que eles deixam para escrivães e estagiários fazerem muitas de suas funções conforme a reportagem da Gazeta do Povo revelou anteriormente. Tomar depoimentos, lavrar autos de prisões em flagrante e documentar apreensões são algumas das tarefas previstas no
Código de Processo Penal que os delegados deixam para outros fazerem. "Não por má vontade, é pura necessidade", ressalta um experiente delegado que já passou por várias delegacias de Curitiba. O promotor Guaragni afirma que o mais adequado seria que a lei fosse seguida. "O conveniente seria o delegado conduzir, porque ele tem uma noção exata ou clara, que às vezes o escrivão não tem", afirma.
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