Foz do Iguaçu - Os efeitos nocivos do crack, da maconha e da cocaína se espalham entre crianças e adolescentes em uma velocidade incompatível com as ações de prevenção e tratamento propostas pelo governo. No Paraná, jovens de até 17 anos com dependência química disputam vagas em comunidades terapêuticas e hospitais. Londrina e Foz do Iguaçu, no rol das cinco maiores cidades do estado, não contam com comunidades terapêuticas especializadas no atendimento de crianças e adolescentes. Em Curitiba e região metropolitana há cerca de 50 comunidades, mas apenas 20% oferecem atendimento para jovens que ainda não completaram 18 anos. Todas permanecem lotadas.
Apesar das diretrizes estabelecidas na política nacional antidrogas, na prática não é fácil encaminhar um adolescente para tratamento. Em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai, a localização geográfica por si só facilita o acesso às drogas, mas a cidade não tem comunidade terapêutica e leitos hospitalares para internamento na faixa etária de até 17 anos. Apesar disso, todas as semanas a juíza da Vara da Infância, Sueli Fernandes da Silva, precisa emitir três a quatro ordens judiciais para providenciar tratamento a adolescentes usuários de droga, em conflito com a lei.
O diretor da Secretaria Municipal sobre Drogas e presidente do Conselho sobre Drogas de Foz do Iguaçu, pediatra Camilo Antônio de Lima, diz que para dar conta da demanda juvenil, o que se faz é adaptar o atendimento nas próprias comunidades terapêuticas de adultos, todas praticamente lotadas.
Para reverter a situação, o Conselho de Foz prepara um projeto para enviar ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) com objetivo de criar um espaço especializado. A construção do Caps Infantil também está prevista. Os casos de drogadição entre adolescentes e adultos aumentaram 23% na cidade, nos últimos cinco anos, segundo Lima.
Londrina é outra cidade de grande porte carente de serviços. O município tem clínica especializada no atendimento de jovens de até 17 anos, com tempo de internação médio de 40 dias para desintoxicação, e Caps-AD e Caps Infantil. Mas a necessidade atual, apontada por especialistas da área, é para tratamentos a longo prazo oferecidos pelas comunidades terapêuticas. "Esse é o serviço que falta, é um serviço mais complexo", diz Elizeu Euclides Barboza de Carvalho, membro do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal de Políticas de Álcool e Outras Drogas (Comad) de Londrina.
Na avaliação de Carvalho, a demanda pela internação aumentou porque o adolescente está se iniciando no mundo das drogas bem mais cedo e um dos fatores que contribuiu para isso é a presença do crack. "Antes havia todo um caminho a percorrer, era álcool, maconha, anfetamina, cocaína", lembra. "Hoje, o adolescente de 11 e 12 anos já está tendo a iniciação diretamente com o crack, que causa dependência grande e é necessário um atendimento que o ambulatório não dá conta, não resolve", diz.