O esquema desmontado nesta quarta-feira (15) para lesar os cofres da Universidade Federal do Paraná (UFPR) não ficou restrito às fronteiras do estado. Mesmo morando em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, distante mil quilômetros de Curitiba, quatro membros de uma mesma família teriam recebido R$ 1,8 milhão nos quatro anos em que os desvios ocorreram. Procuradas pela Gazeta do Povo, mãe e filha negaram irregularidades, mas apresentaram versões diferentes para a pesquisa que supostamente faziam para a UFPR. Já o filho e a ex-esposa dele não foram localizados pela reportagem.
INFOGRÁFICO: Como as pessoas envolvidas se conheciam e o valor que receberam
Saiba como um esquema “grosseiro” desviou R$ 7,3 milhões da UFPR
Leia a matéria completaServidora municipal aposentada, segunda ela por invalidez, Maria Alba de Amorim Suarez – a matriarca da família – aparece no Portal da Transparência do governo federal como beneficiária de R$ 739,4 mil no período de 2013 a 2016. Em entrevista por telefone, ela admitiu ter recebido recursos da universidade para a realização de “pesquisa”, mas não soube precisar ao certo o que era. “Era pesquisa de pessoas que iam lá e pediam pra gente fazer. Puxar dados das pessoas que estudavam lá”, afirmou.
Maria Alba também disse não saber, ao certo, quanto recebeu, mas afirmou não ter ganho os valores creditados a ela descritos no Portal da Transparência do governo federal, onde constam os pagamentos. “Que isso, moço? Nunca vi esse dinheiro. Pode vir na minha casa ver a humildade que eu sou. R$ 739 mil? Deus me livre. Eu ficava só com o meu salário, entre mil e mil e pouco. Agora, se usaram nosso nome para outras coisas, eu vou correr [atrás] e vou descobrir”.
Bicos
Maria Alba diz levar uma vida “humilde” após ter trabalhado no serviço de assistência social local. Ela conta ter feito “bicos” para a UFPR junto com seus filhos, Maria Eduarda e Pedro Amorim Suares Campos, e sua ex-nora, Patrícia Vargas da Silva do Nascimento. “Fazíamos o serviço porque era um jeito pra ganhar um dinheiro extra. Mas nada ilegal. Tudo pra complementar renda. Eles [os filhos e a ex-nora] recebiam a partir de mim.”
Apesar de dizer não se “recordar muito bem” sobre quem a selecionou para o serviço, a aposentada confirmou, ao ser questionada, que havia sido contatada por Tânia Marcia Catapan, uma das duas servidoras presas nessa fase da operação Research. “Acho era esse o nome, sim”, disse. Ela não mencionou, porém, que é amiga no Facebook de Conceição Abadia de Abreu Mendonça, considerada pela Polícia Federal como uma das mentoras da fraude.
Mesmo tendo recebido dinheiro de uma universidade localizada no Paraná, Maria Alba admitiu que pouco veio para Curitiba. “Às vezes, quando dava, eu ia. Mas quando não [dava], eu fazia aqui mesmo. Fui poucas vezes [para Curitiba]”. E, apesar da “vida humilde” que diz levar, ela colocou à venda no ano passado uma casa no valor de R$ 380 mil, próxima ao aeroporto internacional de Campo Grande. Segundo o anúncio, o imóvel tinha piscina, churrasqueira, dois quartos, um deles com suíte e garagem para quatro carros. Ela também é filiada ao PMDB de Campo Grande desde 2005.
Maria Eduarda Amorim Suarez Campos disse que o serviço realizado por ela e pela família “sempre foi legal” e se negou a dar mais informações a respeito do assunto. “A gente não precisa ficar dando informação a vocês [jornalistas]. O que a gente trabalhou a gente deu a informação para a nossa chefe e para a faculdade”, disse. A reportagem não conseguiu contato com Pedro Amorim Suares Campos e Patrícia Vargas da Silva do Nascimento.
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