Oitenta famílias de posseiros que vivem na área considerada pela Justiça como sendo a terra indígena xavante Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso, devem começar a ser levadas para assentamentos na região a partir de terça-feira (18).
Segundo o governo federal, elas se encaixam no perfil de quem pode ser reassentado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria (Incra).
A Secretaria-Geral da Presidência da República informou que 183 famílias foram cadastradas. As outras 103 ainda estão sendo analisadas.
Não podem ser assentadas famílias que possuírem outro título de propriedade rural, que já tiverem sido contempladas por programa de reforma agrária ou que tenham renda maior que três salários mínimos.
Posseiros ocupam a área desde 1992. A terra indígena foi homologada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Em novembro deste ano, as famílias foram notificadas pelos oficiais de Justiça, que deram 30 dias para que deixassem a área de 165 mil hectares.
Os posseiros dizem que a Fundação Nacional do Índio (Funai) errou propositalmente a demarcação de Marãiwatsédé para encobrir uma falha do Incra. A fundação nega a acusação.
As famílias serão levadas para a fazenda Santa Rita, em Ribeirão Cascalheira (MT), onde já há reassentados há quatro anos. Representantes desses agricultores dizem que não há mais espaço para novas famílias no local. Mas, segundo o governo federal, há 250 lotes disponíveis. Cada um tem área entre 50 e 60 hectares.
Segurança
O horário das mudanças não foi divulgado. Os caminhões serão escoltados até o destino final para evitar ataques de manifestantes.
Na última quinta-feira (13), posseiros armados com coquetéis molotov, estilingues e pedras organizaram uma emboscada para interceptar o caminhão que carregava a mudança de um deles. O veículo, no entanto, já havia saído e um comboio de 20 carros e cerca de 80 agentes de segurança frustrou o ataque.
Até domingo (16), 31 propriedades haviam sido abordadas pelos oficiais de Justiça. A Funai informou que 15 dessas fazendas já foram oficialmente retomadas.
Os proprietários das demais receberam mais 24 horas para retirar objetos. Um fazendeiro recebeu mais dez dias para remover animais e móveis. Não há previsão para concluir a operação.
Estrada
Uma empresa contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) concluiu na noite de domingo um desvio para que carros e caminhões passem pelo trecho em que uma ponte foi serrada e incendiada. Um caminhão com 26 toneladas de carne está preso sobre o rio desde a manhã de sábado (15).
O dono do veículo diz que outros caminhoneiros estão com medo de ir até o local para retirar a carga e remover o caminhão. O bloqueio da BR-158 em Posto da Mata, distrito de Alto Boa Vista e principal foco de tensão na área, foi retomado no fim de semana.