As famílias que estão desalojadas desde a última sexta-feira (11) por causa do transbordamento do Rio Paraitinga, na cidade de São Luiz do Paraitinga, interior paulista, devem começar a voltar para as suas casas nesta tarde. O volume de água do rio baixou hoje para 1,1 metro acima do nível normal na sexta-feira chegou a 3,8 metros.
Ontem (15), a prefeitura fez a limpeza das casas, mas 115 pessoas ainda estão fora de suas residências. Três famílias permanecem abrigadas na Escola Municipal Coronel Domingues de Castro e 30 estão em casas de amigos e parentes.
Segundo a Defesa Civil da cidade, o transbordamento do Rio Paraitinga atingiu 96 casas, mas o número de residências alagadas poderia ter sido superior a 500, não fossem as ações de desassoreamento e derrocamento.
Esses procedimentos, iniciados em 2011, aumentaram a vazão e aprofundaram a calha, na parte que margeia o centro histórico, entre 1 e 1,2 metro. "Não fossem os serviços de desassoreamento e derrocamento feitos logo após a enchente de 2010 [que praticamente destruiu o centro histórico], com certeza, os estragos teriam sido muito maiores", avalia o prefeito Alex Torres. "Seria uma situação muito pior do que está agora", acrescenta o coordenador da Defesa Civil da cidade, José Carlos Rodrigues.
A segunda parte do desassoreamento e derrocamento do rio ocorrerá a partir de março e deve chegar a um dos afluentes do Rio Paraitinga, o Ribeirão do Chapéu. Localizado no distrito de Catuçaba, esse ribeirão foi grande responsável pela inundação de São Luiz do Paraitinga em 2010. Uma tromba d'água elevou o seu nível e fez com que o curso do Paraitinga se invertesse até inundar quase toda a cidade.
Outra razão para que a enchente de sexta-feira não tenha sido mais grave, explica o prefeito, foi o baixo índice de chuvas sobre o distrito naquele período. "Tivemos muita sorte porque o Ribeirão do Chapéu, que estrangula o Rio Paraitinga, estava no seu nível normal e não trouxe grandes transtornos para a gente aqui no centro histórico."
O desassoreamento e derrocamento, portanto, aliviam o problema, mas não são suficientes para conter uma cheia maior do rio, como a ocorrida em 2010, quando o volume de água ficou 18 metros acima do normal. De acordo com o prefeito Alex, a cidade precisa de obras maiores para evitar definitivamente uma nova catástrofe.
Segundo ele, existem três projetos em estudo para a cidade. Um deles seria a criação de um desvio no Rio Paraitinga como forma de reduzir a quantidade de água que vem da cabeceira, localizada em cidades próximas, como Cunha e Lagoinha. Outra proposta é a construção de uma barragem de contenção no Rio, a aproximadamente 9 quilômetros do centro de São Luiz do Paraitinga.
O projeto mais bem-aceito, por sua vez, é a colocação de um muro de arrimo (obra também de contenção), com 1,1 metro de altura, nos 800 metros de extensão do rio que margeiam o centro histórico. De acordo com o prefeito, colado ao muro seria construído um deck. "Uma coisa muito bonita, seria um cartão-postal para a cidade. Isso está esbarrando apenas nos pareceres do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] e do Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico]", disse.
Além da implementação de um desses projetos, há a necessidade da retirada de terra da formação que resulta em uma curva no rio, localizada numa região conhecida como Várzea dos Passarinhos. Essa curva reduz a velocidade do curso d'água no Rio Paraitinga de 16 quilômetros por hora (km/h) para 13 (km/h).
Enquanto as obras mais significativas não são feitas, a Defesa Civil da cidade monitora as alterações nas águas até 70 quilômetros antes de chegarem ao centro histórico. Existem dez pontos de monitoramento eletrônico (fluviômetros) enviam informações a uma central instalada na cidade. Os técnicos da Defesa Civil do município conseguem prever uma cheia com antecedência de 24 horas. Ao longo do rio, foram instaladas também réguas para ajudar na medição.
A Defesa Civil tem monitorado, além disso, 45 casas na parte alta da cidade por apresentarem riscos de serem atingidas por deslizamentos de terras. Desde 2010, após a tragédia em que muitos perderam suas casas, foram retiradas das áreas de risco cerca de 150 famílias, que receberam casas populares ou aluguel social. Mais 12 famílias, porém, ainda aguardam uma solução quanto à moradia.