A cerimônia em homenagem às vítimas do voo 447 realizada ontem em Paris se transformou num coro contra as autoridades e os investigadores franceses. Familiares criticaram a "falta de transparência" e a "morosidade" das investigações sobre as causas da queda do Airbus-A330, que deixou 228 mortos há um ano quando ia do Rio de Janeiro a Paris. O evento, organizado pela Air France no Parque Floral de Paris, reuniu cerca de mil familiares de vítimas.
Wini Schmidt, representante da associação alemã Hiop que perdeu a filha de 27 anos no acidente, citou a confusão provocada pelo anúncio feito pelo Ministério da Defesa em 6 de maio, de que a Marinha teria detectado sinais das caixas-pretas. "Se mediram esses sinais há 11 meses, por que só agora a informação foi revelada?", questionou. O presidente da Associação das Vítimas do Voo 447 no Brasil, Nelson Marinho, que perdeu um filho no acidente, pediu o reinício imediato da busca por destroços e pelas caixas-pretas, suspensa na semana passada.
Representantes do BEA (órgão francês de investigação), da Airbus e da Air France não se pronunciaram. Na semana passada, a assessoria do BEA afirmara que o órgão entra em contato com as famílias quando há progressos nas investigações. O secretário dos Transportes, Dominique Bussereau, disse que "as autoridades francesas têm feito de tudo para conhecer a verdade".
Apuração paralela
Em seminário promovido ontem pela Coppe/UFRJ, o professor Renato Machado Cotta usava uma camiseta com foto da filha, morta no acidente. Ele integra um grupo de cientistas que investigam as causas do desastre. Recentemente, recebeu do presidente Lula a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico. Ele disse que não desistirá de suas investigações enquanto não entender o que aconteceu no voo.
Os pesquisadores da Coppe concluíram que o congelamento dos sensores de velocidade (tubos de pitot) contribuiu para o acidente. Ainda há dúvida quanto ao motivo de o avião ter seguido um plano de voo em que passaria por uma região de fortes tempestades.
Familiares e amigos das vítimas participaram, na manhã de ontem, de uma missa em Ipanema, zona sul do Rio. Segundo a Air France, cerca de 80 pessoas foram ao evento. À tarde, os parentes levaram flores ao monumento erguido em homenagem às vítimas no mirante do Leblon.
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