Doações agora só em dinheiro
A ajuda de milhares de brasileiros às vítimas da enchente em Santa Catarina parece ter superado a expectativa das autoridades. No início da noite de ontem, a Defesa Civil do Paraná encerrou a coleta de donativos para as pessoas atingidas pela tragédia. Segundo o coordenador do órgão e secretário-chefe da Casa Militar, tenente-coronel Washington Rosa, o pedido partiu do próprio estado vizinho.
Chuvas no Rio tiram de casa 13 mil pessoas
A prefeitura de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, informou ontem que 13 mil pessoas já deixaram suas casas após a enchente que elevou seis metros acima do normal o nível de água do Rio Ururaí. Já o último balanço divulgado pela Defesa Civil estadual apontou que mais de 7,3 mil pessoas estão em casas de parentes ou de amigos e outras 2.713 ficaram desabrigadas e foram acolhidas em escolas municipais transformadas em abrigos. Ontem, pela primeira vez após três dias sem chuva, o nível da água do Ururaí começou a baixar, segundo Henrique Oliveira, secretário de Defesa Civil do município. Mas a previsão de novas chuvas para hoje deixou a população apreensiva.
Novo deslizamento bloqueia BR-376
Durou apenas três dias a liberação total da BR-376 no sentido Paraná Santa Catarina. Na manhã de ontem, um novo deslizamento de terra, no município de Guaratuba, bloqueou as duas pistas que levam ao estado vizinho. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi obrigada a liberar um desvio na pista contrária. A barreira que se formou no quilômetro 663 da rodovia com cerca de 40 metros de extensão por cinco de altura deve ser retirada do local até a tarde de hoje.
Ilhota - Após três dias de sol, é forte a pressão das famílias desabrigadas para voltar para casa e tentar salvar o que sobrou da tragédia provocada pela chuva em Santa Catarina. Mais de nove mil pessoas já conseguiram voltar a suas casas, mas ainda há 69 mil que estão em abrigos ou em casas de parentes e amigos.
Moradores do Morro do Baú, no município de Ilhota, a região mais crítica de todo o estado, estão impedidos de entrar na área por causa do risco de deslizamento de terra. Mesmo assim, insistem para voltar ao local. Cerca de 700 pessoas foram regatadas e 37 morreram em Ilhota, o município que mais registrou mortes. Ontem, depois da mais longa trégua em vários dias, voltou a chover no município no fim da noite.
A população aguarda também para enterrar os corpos dos mortos do desastre. O motorista Zairo Zabel espera com os caixões prontos, que ele mesmo construiu, a retirada dos corpos do filho, da esposa e do sobrinho. Zairo perdeu também outro filho, a mãe e a sobrinha. Não foi atingido porque, quando a casa foi soterrada, estava no Paraná buscando madeira. Teria voltado antes do deslizamento não fosse o caminhão que quebrou e o engarrafamento provocado pela chuva na BR-101.
Para a comunidade do Braço do Baú esses três corpos são os últimos a serem retirados. Bombeiros militares do Rio Grande do Sul e bombeiros voluntários de Ilhota começaram ontem pela manhã mais uma tentativa, mas novamente não conseguiram os corpos.
Risco máximo
A maior parte da região do Morro do Baú ainda oferece perigo. A área foi decretada pela Defesa Civil como sendo de risco máximo, onde ninguém pode entrar. Um bloqueio da Polícia Militar impede o acesso. Ontem, a equipe da Gazeta do Povo pôde ir até um trecho do morro, acompanhada por homens da Polícia Ambiental de Santa Catarina.
Os deslizamentos da região cercada por montanhas destruíram casas, plantações, levaram postes, abriram riachos, trancaram ruas e quebraram pontes numa proporção difícil de ser descrita. Os morros cobertos pelo verde estão com fendas de barro, por onde a água passou e provocou o deslizamento. Quem fez o resgate das vítimas conta que a imagem era a de um sorvete derretendo.
Com o sol forte, quem acessa a área pintada de vermelha nos mapas tem a impressão de que ela pode voltar a ser habitada, já que algumas residências ficaram de pé. Os policiais, porém, avisam que a terra pode cair a qualquer momento. "A terra ainda está molhada e pode acontecer o deslizamento sem chuva", afirma o tenente Marledo Egídio Costa.
As equipes de reportagem que tiveram acesso ao local levaram um susto ontem, quando um cinegrafista de uma emissora afundou a perna enquanto filmava. Ele só conseguiu sair com a ajuda de três bombeiros. "Imagina se alguém entra aqui sozinho e fica soterrado", questiona o tenente. Segundo ele, é necessário que não chova por uma semana para se ter uma real avaliação da área.
O risco de soterramento é constante, mas os moradores insistem em entrar na região. Eles alegam que tiveram tempo só de trancar as casas, antes de serem encaminhados para os abrigos, e precisam buscar alguns pertences para reconstruir a vida. O proprietário de uma madeireira pediu para ter acesso à área, onde tinha um caminhão carregado para ser levado a um cliente que já tinha pagado pelo serviço.
A agricultora Cássia Schmidt morava perto do bloqueio policial, antes de ser resgatada da região, e pediu para tirar fogão e geladeira. O vizinho da agricultora, Adriano Kremer, também pediu para ir alimentar as galinhas e os peixes. A região é agrícola e muitos animais continuam no local. "Não quero salvar alguma coisa. Quero tratar os animais que estão sem comer há uma semana", afirma.
Segundo o tenente Marledo, as últimas quatro pessoas que morreram haviam sido resgatadas, mas decidiram voltar para pegar seus pertences. "Não podemos permitir isso", conclui. Além do bloqueio, a PM também faz o patrulhamento na região para que as casas não sejam saqueadas.
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