Atrás das grades: projeto prevê que penas restritivas de liberdade, sempre que possível, sejam substituídas pelas em meio aberto| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Determinações

Conheça algumas das medidas que o poder público deverá tomar com a aprovação do projeto de lei que cria o Sinese.

Meio aberto

- Dar prioridade à aplicação de medidas socioeducativas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida), em detrimento às medidas de liberdade restritiva (semiliberdade e internação).

Limites

- Cada centro socioeducativo poderá atender no máximo 40 adolescentes, divididos em módulos com no máximo 15 e quartos com no máximo três.

Separação

- Os centros socioeducativos terão de ter espaços separados para as três fases do atendimento (inicial, intermediária e final).

Saúde

- O poder público deverá prestar atenção especial à saúde do adolescente, especialmente em relação à saúde mental, agravos psicossociais, dependência química, saúde sexual e reprodutiva.

Acompanhamento

- Os adolescentes infratores precisarão ter acompanhamento jurídico-social e apoio psicológico.

Sem confinamento

- Adolescentes com transtornos mentais não poderão ser confinados em alas ou espaços especiais.

Especializadas

- As capitais terão de ter delegacias especializadas no atendimento ao adolescente infrator.

Fonte: SEDH

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Veja como estão divididos os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no PR
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As medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida) deverão ter prioridade sobre as medidas de liberdade restritiva (semiliberdade e internação) na punição aos adolescentes infratores. É o que prevê o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), proposto pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), do Ministério da Justiça.

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O projeto de lei que cria o Sinase tramita no Congresso desde 2006 e padroniza os procedimentos jurídicos e sociais referentes a adolescentes infratores. Amanhã, a Câmara vota o substitutivo (projeto de lei original acrescido de sugestões que formarão o texto a ser encaminhado à votação final). Se aprovado, o Sinase regulamentará ações que vão desde normas para apuração do ato infracional, a formas de aplicação de medidas socieducativas e os padrões a serem adotados nas internações em centros socioeducativos.

Um dos principais pontos a ser corrigido pelo sistema, aponta a coordenadora do Programa de Implementação do Sinase, Lúcia Elena Rodrigues, é em relação ao alto grau de interpretação que o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) permite hoje. Segundo Lúcia, o ECA pouco fala da execução das medidas. "O estatuto deixa os juízes muito suscetíveis a influências externas em suas decisões, como a pressão da mídia, o acúmulo de trabalho em outras varas, a própria experiência do juiz, o que será sanado com a implantação do Sinase", aponta Lúcia.

Já o promotor de Justiça Salvari José Dias Mancio, da Vara de Adolescentes Infratores em Curitiba, afirma que entre as vantagens do Sinase está a padronização dos procedimentos em todo o país. "Com o Sinase, as mesmas medidas serão adotadas no Amazonas, no Paraná e em todo o país. Hoje essas medidas são tomadas conforme os padrões municipais e estaduais", argumenta o promotor.

Infraestrutura

Mancio também destaca a padronização arquitetônica e funcional que os centros socieducativos passarão a ter com a aprovação do sistema (veja quadro ao lado). De acordo com o promotor, pelo projeto do Sinase, os centros terão de oferecer tratamento médico, jurídico e psicológico aos internos, sem que eles precisem sair do local. "Isso é fundamental, porque hoje não tem para onde levar um menino dependente químico para tratamento. Com os centros oferecendo todos esses serviços, ele terá um atendimento apropriado, e, mais importante, com a participação da família", aponta o promotor.

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Orçamento

A previsão é de que o Sinase seja mantido com orçamento intersetorial a partir da articulação da SEDH com outros ministérios. Cada ministério dará sua contrapartida, conforme a necessidade constata pela Secretaria em setores como saúde, educação, assistência social, justiça, entre outros.

Entretanto, o coordenador da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced) – entidade que concluiu recentemente um relatório sobre a situação da infância no país (veja texto ao lado), Djalma Costa, defende orçamento próprio. "O problema é que, conforme aponta o relatório, não existe diálogo entre as políticas do governo federal voltadas ao público adolescente. Infelizmente, os ministérios costumam contigenciar recursos aprovados para determinadas áreas e utilizá-los em outras", aponta.