| Foto: Sossella

População reclama do projeto Povo

O projeto de Policiamento Ostensivo Volante (Povo), da Polícia Militar, foi criado para prestar um atendimento rápido à população a partir de celulares nas viaturas. Porém, o sistema tem gerado reclamações. No dia em que teve a casa roubada, Maria Clara (os nomes desta reportagem são fictícios) ligou três vezes para o celular da patrulha do bairro e ouviu a mensagem de que o aparelho estava desligado. Ela então ligou para o 190 e 40 minutos depois veio a viatura. "Um policial disse que o celular é balela, que eles ficam pouco tempo ou nem ficam com o telefone. Comentou ainda que o celular deles estava na central."

Quando José Gustavo e a esposa foram rendidos em frente de casa em um domingo à tarde, também tentaram entrar em contato com o Povo. "Ninguém atendeu." Um policial militar que não se identificou diz que muitas vezes os celulares ficam com os comandantes. "Eles acham que os policiais vão fazer uso pessoal", relata.

O secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, diz que está prevista a compra de um sistema de monitoramento das viaturas para que se saiba onde os policiais estão. Quanto à ineficiência do celular, Delazari diz que o telefone é só mais um canal entre a população e a PM. "Mesmo que o celular não funcione ou não atenda, o 190 localiza a viatura imediatamente. Outra alternativa é ligar para a companhia do bairro. O número pode ser pego no quartel (telefone 3304-4700) ou pelo próprio 190", diz o secretário. (LC)

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O assassinato do investigador Dirceu Antônio Zorek, 48 anos, ocorrido na noite de terça-feira quando ele abria o portão do 11.º Distrito Policial (DP), em Curitiba, para prestar atendimento a um casal que pedia ajuda (ler texto ao lado), mostra que a determinação da Divisão Policial da Capital (CPC) de não haver expediente nas delegacias após as 18 horas não é um incômodo só à população. Enquanto o cidadão é obrigado a ir para um dos dois Centros Integrados de Atendimento (Ciac) em funcionamento – no 1.° DP, no Centro, ou no 8.° DP, no Portão (o do 3.º DP, nas Mercês, está em reforma) – para prestar queixa após as 18 horas, os policiais estão vulneráveis, pois geralmente apenas um agente fica de plantão.

Conforme relataram policiais civis, ontem, no enterro de Zorek, eles enfrentam um impasse: se prestam atendimento, como Zorek, descumprem uma ordem superior e se expõem ao risco; se não atendem, ficam suscetíveis a penalizações, já que seria comum cidadãos e mesmo delegados reclamarem da falta de atendimento à Corregedoria da Polícia Civil. "Está difícil trabalhar assim. Como um policial vai deixar de ajudar a alguém que bate na porta da delegacia pedindo socorro?", questiona um investigador que prefere não ser identificado.

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Já o cidadão que vai prestar queixa em uma delegacia após as 18 horas tem de contar com a boa vontade do plantonista. A pessoa tem de esperar o atendimento em frente a portões com grades e se identificar por interfones que nem sempre funcionam – como o da 11.° DP, onde Zorek foi até o portão porque o aparelho está quebrado.

A reportagem percorreu seis delegacias na noite de sexta-feira passada e constatou esta situação. Algumas estavam com pouca luminosidade. No 12.º DP, em Santa Felicidade, além de interfone, câmeras de segurança e grades, há um papel colado no muro que informa que boletins de ocorrência só são feitos nos dias úteis, das 9 às 18 horas, e que após esse horário e nos fins de semana e feriados o plantão é no 1.º e 8.º distritos.

Sobrecarga

O não-atendimento após as 18 horas também provoca sobrecarga de trabalho. A reportagem foi sexta-feira ao Ciac do 8.º DP, às 23 horas, onde o delegado Carlos Mastronardi fazia plantão. O delegado contou que cumpriu expediente no 13.º DP, no Tatuquara, até as 18 horas, passou em casa, no Cajuru, para tomar banho, foi dar plantão no Ciac até as 7 horas e teria de voltar ao 13.º DP porque o subdelegado se aposentou, não foi substituído e não há revezamento na escala.

No Ciac onde o delegado dava plantão há seis computadores. "Só não há gente suficiente. Também temos viaturas e combustível", comenta.

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Junto com o delegado, dois investigadores e dois escrivães, que também trabalham no 13.º DP e com a mesma carga de trabalho, cumpriam plantão para atender, em média, 30 ocorrências por noite. "Não quero criticar ninguém, mas é complicado porque não está funcionando. O atendimento centralizado pode ser bom, mas precisamos de estrutura", argumenta o delegado.

Viabilidade

O secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, diz que a centralização no atendimento é viável. "Os Ciacs estão localizados em bairros estratégicos, justamente para atender toda a cidade em horários especiais."

Quanto à segurança dos policiais de plantão, Delazari explica que a função da Polícia Civil não é fazer o trabalho preventivo e ostensivo. "Esta ação se reserva à Polícia Militar. A Polícia Civil é para investigar. Como o efetivo durante à noite é reduzido, até mesmo porque reduz a procura pelas delegacias, é necessário zelar pela integridade física dos funcionários."

Quanto à denúncia de que os casos não atendidos após as 18 horas estão sendo relatados à Corregedoria, a assesoria de imprensa da secretaria informa que nenhum policial é punido por cumprir a determinação.

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