Quatro calouros da Universidade Positivo (UP) foram internados ontem em um mini-hospital de Curitiba depois de um trote aplicado por veteranos em um bar próximo da instituição. Um rapaz e uma moça chegaram em estado de coma alcoólico ao Centro Municipal de Urgências Médicas do bairro Campo Comprido. Outros dois estavam quase inconscientes devido à embriaguez. Na segunda-feira, um calouro da UP já havia sido atendido na mesma unidade, após cair inconsciente por causa do excesso de bebida. No dia seguinte, três calouros da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) também foram internados, dois deles em coma alcoólico, depois de um trote parecido.O trote de ontem foi organizado por veteranos do curso de Arquitetura. Eles começaram a se reunir por volta das 8h30 em frente do portão 3 da UP, carregando caixas de cerveja e garrafas de cachaça e uísque. Dezenas de estudantes participavam da folia. Segundo um empresário que filmou e fotografou toda a movimentação, uma caloura de Arquitetura teria dito aos amigos que iria "beber até ficar doidona". Ela, que completou 18 anos no dia 14 de janeiro, foi um dos quatro estudantes socorridos pelo Samu. Três foram atendidos na unidade de emergências e liberados, mas um teve de ser internado no Hospital Cruz Vermelha (o hospital-escola da UP).Empresários das redondezas dizem que o problema acontece há quase 10 anos, desde que a UP se instalou ali, no limite do bairro Campo Comprido com a Cidade Industrial de Curitiba. O bar em frente do portão 3 da universidade costuma ficar lotado de estudantes nas noites de quinta e sexta-feira, deixando um rastro de sujeira, mas o problema se agrava a cada início de ano letivo. Segundo empresários que se sentem prejudicados com a baderna, esses jovens, com idade entre 18 e 25 anos, põem o som no volume máximo e deixam as ruas repletas de latas vazias e cacos de vidro. "Isso está interferindo na nossa imagem com os clientes", diz um deles.
"O pior é que o pessoal está se perdendo, bebendo até cair", diz o empresário que fotografou o trote de ontem. Foi o que aconteceu com a caloura de Arquitetura. Na segunda-feira, outro calouro chegou ao hospital com hipotermia, depois de beber e pegar chuva até ser recolhido pelo Samu caído na rua. O empresário diz que neste trote e no anterior encontrou uma cabeça de porco, usada no ritual dos veteranos do curso de Arquitetura. "No fim, saem bêbados, fazendo rachas com carros e motos". Uma rua próxima tem um buraco diferente, feito por um rapaz que tracionou o carro, acelerou até estourar o pneu e, com o aro da roda, arrancou um pedaço do asfalto.
Orientações
A Universidade Positivo não quis comentar o caso. Por meio da assessoria de imprensa, informou que não aprova trotes violentos, não os permite no interior da instituição e usa três recursos diferentes para orientar seus alunos a não participar desses eventos. O primeiro aviso se dá por meio de uma portaria entregue junto com os documentos do ensalamento; o segundo é por meio dos adesivos colados nos muros de todos os blocos com o slogan "Trote, tô fora"; e o terceiro através do celular, com mensagens que desejam boas-vindas aos estudantes e advertem para não participar dessas atividades.
Única liderança estudantil constituída na UP, o Centro Acadêmico Zilda Arns, do curso de Medicina, reprova trotes degradantes. O presidente do centro, Leonardo Paese Nissen, diz que os veteranos do curso costumam fazer uma semana de recepção aos calouros, com uma apresentação dos professores e um passeio pelo hospital universitário. Ontem, o Centro Acadêmico iniciou a inovadora cerimônia do jaleco branco, ocasião em que cinco professores das grandes cadeiras da Medicina vão vestindo os alunos, simbolizando a entrada deles no meio acadêmico. A recepção aos calouros inclui um churrasco, mas sem trote.
Veja mais fotos do trote na Universidade Positivo: