Bill Gates, Eike Batista e Warren Buffett: bilionários norte-americanos são mais mão aberta que os brasileiros| Foto: Paul J. Richards / AFP; Fred Pouser / Reuters; Sergio Moraes / Reuters

Regras de ouro

A filantropia alavanca o desenvolvimento de um país se algumas premissas são seguidas:

1. O foco deve ser no investimento em áreas que estimulem o avanço do conhecimento em benefício da maior parte da população.

2. País rico e com sistema político de democracia social estimula a participação cidadã, a responsabilidade social nos indivíduos e o protagonismo voltado às questões relevantes da sociedade.

3. Indivíduos comprometidos com o crescimento e o desenvolvimento da nação estão inseridos em uma cultura sociopolítica de assumir corresponsabilidades junto ao Estado, contribuindo financeira e materialmente com projetos educacionais, técnico-científicos, culturais.

4.Sistemas fiscais e tributários precisam estar organizados de forma a estimular as transferências voluntárias de recursos privados para projetos de interesse social.

Fonte: Ana Lúcia Jansen Santana, professora e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Terceiro Setor da Universidade Federal do Paraná.

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Incentivo à doação de riqueza

Você acha que os ricos brasileiros são tão solidários quanto os estrangeiros? Como o governo pode estimular a filantropia no país?

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A filantropia praticada pelos homens mais ricos do planeta tem mudado a realidade de muitas comunidades e transmitido a mensagem de que a preocupação com o outro pode conviver com a necessidade de acumular bens. No Brasil, quem reparte fortunas o faz por meio de fundações e institutos ligados às empresas. Nos países anglo-saxões, à cultura de compartilhar soma-se uma legislação que cobra altos impostos sobre heranças, o que estimula que altas somas de dinheiro sejam destinadas para a criação e manutenção de universidades e bibliotecas.

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Embora não existam dados consistentes sobre doações no Brasil, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), rede sem fins lucrativos que reúne 142 investidores sociais, elaborou um censo para dimensionar o investimento social do país. O resultado: R$ 1,9 bilhão foi aplicado em diversas áreas sociais, culturais e ambientais em 2009.

A gerente de relacionamento da Gife, Ana Carolina Velasco, diz que entre os grandes investidores privados do país há dois grupos que se destacam: o de fundações familiares e as empresariais. "São poucos os registros de grandes bilionários que doam como pessoa física. A formação de fundações e institutos é o recurso mais procurado."

Para a coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o Terceiro Setor (NITS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Lúcia Jansen Santana, os brasileiros ricos, enquanto pessoas físicas, não são mesmo filantropos. "Há algumas explicações para isso, a mais importante delas o fato de a legislação fiscal brasileira não estimular a doação de recursos para a filantropia: a lei brasileira limita a doação de recursos para fins sociais."

Ela explica que as doações dos "ricaços" brasileiros obedecem ao critério de apoiar entidades sérias e seus projetos, ou de instituir fundações próprias, como aponta os dados do Gife. Um dos bilionários mais conhecidos no país e o número 7 na lista da revista norte-americana Forbes é Eike Batista. Dono de uma fortuna de 30 bilhões de dólares, Eike doou entre 2006 e 2011 cerca de R$ 253 milhões, grande parte disso pelas empresas do Grupo EBX.

No mundo

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Se os donativos de Eike estão acima da maioria das doações dos brasileiros, o conceito de filantropia em outros países do globo ganham números ainda maiores. Bilionários como Bill Gates e Warren Buffet destinam grande parte de suas fortunas para instituições, universidades e bibliotecas. Só no caso de Buffet, por exemplo, serão 44 bilhões de dólares destinados à fundação de Gates e a outras iniciativas.

Além dos altos impostos, a explicação para essa diferença em termos de valores, segundo Ana Lucia, também se deve a especificidades culturais: "no caso brasileiro é baixo o grau de associativismo, decorrente de razões culturais e econômicas, do próprio processo de formação histórica da nação e da grande desigualdade socioeconômica. Nos países anglo-saxões o cidadão se percebe partícipe do desenvolvimento do seu país e com naturalidade realiza a doação de recursos financeiros e materiais para contribuir com objetivos sociais elevados".

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Bilionários

Doações na casa dos bilhões ajudam a transformar histórias no Brasil e no mundo. Veja a seguir algumas delas:

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Eike Batista

O homem mais rico do Brasil e o sétimo do mundo na lista da revista Forbes é dono de um patrimônio de 30 bilhões de dólares. Ele afirmou que em 2011 fez contribuições pessoais ou por meio de suas empresas que chegaram a R$ 91 milhões. Todas as solicitações de doação passam pelo Instituto EBX, braço do grupo formado por mais 13 empresas.

Jorge Paulo Lemann

Empresário do ramo de bebidas, é o quarto brasileiro mais rico segundo a lista da Forbes, com uma fortuna estimada em 12 bilhões de dólares. Em 2002 criou a Fundação Lemann, que busca melhorar a qualidade da educação pública no Brasil. Em 2009 o orçamento da fundação era de 3 milhões de dólares.

Gastão Eduardo de Bueno Vidigal

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Falecido em 2011, o banqueiro e industrial paulista criou em 1965 a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em homenagem à filha morta aos 13 anos vítima de leucemia. A instituição tem projetos sociais e apoia pesquisas na área de primeira infância.

Bill Gates

O fundador da Microsoft é o segundo homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 61 bilhões de dólares. Em 2000, junto com sua esposa criou a Bill & Melinda Gates Foundation, uma organização filantrópica que promove pesquisas para combater a pobreza extrema e os problemas de saúde dos países em desenvolvimento.

Warren Buffett

O investidor é dono de 44 bilhões de dólares. Em 2006 prometeu que doaria a maior parte de sua fortuna – 31 bilhões de dólares – à Bill & Melinda Gates Foundation e mais quatro instituições de caridade criadas por sua família.

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