Neste Dia Nacional de Luto pela Crise das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, as instituições de Curitiba decidiram não aderir à paralisação da assistência eletiva, como havia definido o movimento. Na capital, o apoio às reivindicações do setor se dará por meio do uso de roupas e braçadeiras pretas pelos servidores e de um ato público em frente dos hospitais, por volta de meio-dia. Os filantrópicos reclamam dos valores repassados pelo SUS, que cobririam apenas 60% dos custos dos procedimentos, gerando o endividamento progressivo das instituições.
Segundo o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Luiz Soares Koury, a dívida dos filantrópicos brasileiros com os bancos chega a R$ 10 bilhões, e os impostos não pagos somam outros R$ 5 bilhões. O valor quase se iguala aos R$ 18,1 bilhões repassados pelo governo federal à saúde neste ano. "Tentamos o diálogo há anos, mas as coisas mudam muito pouco. A informação que tenho é que todos vão aderir, até por uma questão de sobrevivência. A orientação é que as consultas e cirurgias eletivas [de hoje] tenham sido remarcadas." No Paraná, 60 hospitais são filiados à Femipa.
Koury destaca que a intenção da paralisação não é prejudicar a população, mas conseguir apoio para a luta dos hospitais. "Há particularidades que temos de respeitar. Queremos alertar o paciente, para que ele nos ajude a fazer pressão. Nossa briga não é com o paciente, mas com Brasília." Em Curitiba, os filantrópicos decidiram não cancelar as agendas eletivas, em respeito aos pacientes que esperam há bastante tempo pelas consultas.
"Apoiamos o movimento, com faixas no hospital, mas não fecharemos a agenda. A maioria dos nossos pacientes tem câncer. Não podemos colocar outros interesses à frente", justifica o diretor administrativo do Hospital São Vicente, Luiz Eduardo Blanski. No Pequeno Príncipe, que tem 260 dos 390 leitos destinados ao SUS, o mesmo procedimento será adotado. Na hora do almoço, funcionários e pais de pacientes devem se dirigir ao lado externo, vestidos de preto, para manifestar apoio à luta nacional. "As crianças não têm nada com isso, o respeito a elas prepondera sobre a paralisação", ressalta José Álvaro Carneiro, diretor-geral corporativo do complexo Pequeno Príncipe. "Receber menos do que o serviço custa gera problemas operacionais complexos e proíbe condições de melhoria, de investir em equipamentos, capacitação, inovação e pesquisa."
À reportagem, as assessorias dos hospitais Santa Casa, Cajuru e Nossa Senhora das Graças afirmaram que não vão cancelar procedimentos eletivos. No Evangélico, a reivindicação de reajuste da tabela SUS será feita por meio de um ato público, a partir das 10 h de sábado, na praça Alfredo Andersen. O "Abrace o Evangélico" também pretende divulgar a campanha permanente de doações "Ajude o Evangélico".