A filha do médico Jaime Gold, morto no fim da madrugada desta quarta-feira (20) depois de ser esfaqueado na Lagoa, postou uma mensagem de luto em seu perfil do Facebook. Num texto de despedida, a estudante de psicologia Clara Amil Gold disse não compreender o que leva uma pessoa a tirar a vida de outra e que não tinha palavras para descrever o que estava sentindo.
“Ninguém merece sofrer o que você sofreu, tamanha violência. Mesmo estudando psicologia não consigo compreender o que leva um ser humano a tirar uma vida, ainda mais em uma circunstância como esta. Uma bicicleta e uma carteira por uma vida”, escreveu Clara.
Ela continuou a postagem afirmando que o pai foi um homem inteligente e um excelente médico.
“Parece que a ficha não caiu ainda, mas nós vamos sobreviver. Descansa em paz. Te amo”, concluiu ela.
Morador de Ipanema, o cardiologista Jaime Gold, de 55 anos, também era atleta. Segundo a ex-mulher do médico, a designer de interiores Marcia Amil, ele participava de corridas como a São Silvestre, e pedalava quase todos os dias na Lagoa, onde foi vítima de assaltantes na noite desta terça-feira (19). Ele foi esfaqueado na altura do Curva do Calombo, em frente ao centro náutico do Botafogo.
Ex-maratonista, Jaime Gold trabalhava no Serviço de Cardiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e sempre foi muito ligado à prática de atividades físicas. Morador de Ipanema, zona sul da cidade, o médico já participara da corrida de São Silvestre em São Paulo e costumava pedalar quase todos os dias na orla. No início da noite de terça-feira, mudou a rotina ao optar pela Lagoa Rodrigo de Freitas para se exercitar.
Gold formou-se na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fez residência médica no HUCFF. Atuava no Serviço de Cardiologia desde 1989. “Jaime só deixou de correr maratonas após um problema no joelho, mas sempre se exercitava. Estudava a questão da resposta do corpo a exercícios e falava muito sobre isso no dia-a-dia com estudantes e pacientes”, disse o amigo Eduardo Côrtes, diretor-geral do HUCFF, professor dele na década de 80. “Foi um choque para todos nós. Acho pouco provável que tenha reagido.”
Torcedor do Fluminense, Gold teve dois filhos com a ex-mulher Marcia Amil - Clara e Daniel, de 21 anos. Em entrevista ao jornal O Dia, Marcia criticou a proposta de redução da maioridade penal, em discussão no Congresso. “Nem sei se foram menores, mas sei que Jaime foi vítima de vítimas, que são vítimas de vítimas. Enquanto nosso País não priorizar saúde, educação e segurança, vão ter cada vez mais médicos sendo mortos no cartão postal do País. E não só médicos, afinal, morrem cidadãos todos os dias em toda a cidade, não só na zona sul”, disse ela.
Em nota, a Pastoral do Esporte da Arquidiocese do Rio lamentou a morte e se solidarizou com parentes e amigos do médico, que será sepultado às 11h de amanhã no Cemitério Israelita do Caju, na zona norte.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), demonstrou preocupação com a violência nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul, local que vai receber as provas de remo dos Jogos Olímpicos de 2016. Mas ressaltou que acredita na política de segurança do governador e aliado político Luiz Fernando Pezão (PMDB).
“Sinceramente, neste caso (da morte do médico Jaime Gold, atacado na noite de terça-feira por assaltantes), não estou preocupado com Olimpíada. O tema segurança pública afeta a todos nós cariocas, todos os dias”, afirmou nesta quarta-feira, 20, após reunião com membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), que estão no Rio para vistoriar a preparação para os Jogos.
“Não é um desafio fácil, mas tenho muita confiança na política de segurança pública do governador Pezão e do secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame.”
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