O empresário Carlos Augusto Arraes de Alencar, de 57 anos, saiu neste sábado(2) em defesa do médico Joaquim Ribeiro Rilho, acusado de desrespeitar a fila de transplantes de fígado no Rio. Portador de hepatite C desde 1996, ele foi transplantado pela equipe do cirurgião em julho do ano passado e é apontado pelo Ministério Público como um dos beneficiários do esquema. "Só fomos conversar de dinheiro após a cirurgia. Até então ele queria apenas salvar a minha vida", disse o filho do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes.
Ele disse ter pago apenas R$ 90 mil de honorários médicos à equipe médica, valor que considerou pequeno perto dos outros orçamentos que recebeu. Acompanhado por dois dos 10 irmãos, Guel e Jorge, e do advogado Arthur Lavigne, Carlos Augusto contou a via-crúcis que viveu, desde a descoberta de que a hepatite havia provocado um grande tumor em seu fígado, em maio de 2007. A quimioterapia não fez efeito e os médicos davam a ele não mais que seis meses de vida. Recomendavam o transplante em no máximo três meses, para não correr o risco de metástase.
No Brasil, ouviu de alguns médicos que seu tumor, por ser maior de cinco centímetros, era inoperável. Mas Ribeiro Filho o aconselhou a ir à China tentar o transplante. "Ele sempre salientou a dificuldade de conseguir um fígado no Brasil", disse o paciente, que ficou um mês internado lá sem conseguir o órgão.
Carlos Augusto estava em 65º lugar na fila da Central de Transplantes do Rio. Aconselhado por um advogado, entrou com um pedido de liminar na Justiça de Pernambuco, pedindo prioridade para o seu caso. Conseguiu, e no dia seguinte, ficaram sabendo de um fígado em Minas que seria desperdiçado porque não havia quem fosse buscar o órgão. Era 18 de julho, um dia após a tragédia do avião da TAM em São Paulo, o que provocou um colapso na malha aérea. Começava uma corrida contra o tempo. Entre a captação e o implante do fígado, não podem se passar mais do que oito horas, se não o órgão vai para o lixo.
"Tínhamos a liminar, mas nem precisamos usá-la. Já tínhamos comunicado à Central de Transplantes que tínhamos como ir buscar o órgão", lembrou Guel. O cineasta contou que já contavam com essa chance, porque sabiam que anualmente 400 fígados são desperdiçados no País por problemas no frete. A família pagou R$ 25 mil por um jatinho.
Carlos Augusto disse ter documentos da Central de Transplantes autorizando que recebesse o fígado. O Ministério Público, no entanto, afirma que Ribeiro Filho conseguiu a autorização alegando que o órgão iria para uma paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, onde sua equipe também opera. O advogado Arthur Lavigne criticou o fato de a Polícia Federal e o Ministério Público não terem ouvido Ribeiro Filho nenhuma vez antes de indiciá-lo.
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