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Adeus

Filho gravará canção inédita de Caymmi

Os filhos Nana e Dori Caymmi velam o corpo do pai, ao lado do governador da Bahia, Jaques Wagner | Paulo Araújo/Agência O Dia
Os filhos Nana e Dori Caymmi velam o corpo do pai, ao lado do governador da Bahia, Jaques Wagner (Foto: Paulo Araújo/Agência O Dia)

Rio de Janeiro - O corpo do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi foi enterrado ontem, às 16 horas, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, a 50 metros do mausoléu da cantora e atriz Carmen Miranda, que tornou famosa a música O que é que a baiana tem. Perto dali também estão enterrados os corpos de Clara Nunes, Tom Jobim e Cazuza. Caymmi morreu anteontem, aos 94 anos, em decorrência de insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos. Há mais de 30 anos guardada pelo filho caçula, Danilo, Toada à Toa pode ser a única canção inédita deixada por ele. A música é uma parceria de ambos e Danilo planeja gravá-la no próximo CD.

Danilo, de 60 anos, disse pouco antes do sepultamento não ter condições de citar trechos da canção engavetada pela dupla, mas anunciou planos para a música. "Certamente vou gravar", afirmou. A canção foi composta em alguma data esquecida dos anos 70. Questionado sobre a possibilidade de haver mais canções perdidas do pai, Danilo demonstrou ceticismo. "Acredito que não. Todas foram gravadas", disse. Para Danilo, caberá a ele, ao irmão Dori e à irmã Nana a missão de manter viva a obra do pai. "Para que ela seja preservada como bem nacional".

Durante o velório, familiares falaram sobre o sofrimento do músico nos seus últimos dias de vida, devido à ausência da mulher, Stella Maris, que está internada desde abril no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, e em coma há dez dias. "A ausência dela acabou com ele. Ele entrou numa melancolia, desistiu de comer, desistiu de tudo’’, disse Nana Caymmi, a filha mais velha do músico. "Esses dias todos ficamos tentando que ele levantasse. Ele completou os 94 anos sem ela. Foi horrível", lamentou.

Versos

"E assim adormece esse homem/Que nunca precisa dormir pra sonhar/Porque não há sonho mais lindo do que sua terra." Com esses versos, da música João Valentão, o corpo deCaymmi foi sepultado. O trecho foi lido por Dori Caymmi, filho mais velho, que veio dos Estados Unidos, onde mora, para se despedir do pai. "Caymmi pode ser considerado um orixá, deixou muita sabedoria", disse o compositor João Bosco, um dos músicos presentes ao enterro.

"Acho que ninguém cantará a Bahia tão bem quanto Dorival. Ele a cantou com maestria em sua essência’’, afirmou o cantor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura. O jornalista Sérgio Cabral também lamentou a perda do amigo. "Nossa relação era muito próxima e essa perda é não só de um grande amigo, mas também de um grande brasileiro.’’ Cerca de 200 pessoas acompanharam o enterro. Entre elas, estavam os músicos Jorge Mautner e Fagner, a atriz Patrícia França, o ator Othon Bastos e o escritor João Ubaldo Ribeiro.

A Bahia deve homenagear Caymmi, informou o governador do estado, Jaques Wagner, presente ao velório. Ainda não se sabe qual será a homenagem, que deve ser resolvida depois, com consulta à família e possivelmente na área cultural. "Dorival Caymmi sempre cantou a Bahia", disse o governador. "Nós todos perdemos e a Bahia em especial", disse Wagner. O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, anunciou que vai colocar o nome do músico em uma rua do bairro do Leblon, zona sul da cidade.

O político lembrou que o compositor dizia que vivia no cais e olhando para o mar. Também ressaltou que, em uma época em que as religiões afro-brasileiras sofriam discriminação, ele falava delas em suas obras. "Ele conseguiu quebrar muito preconceito com a forma como ele apresentava", disse.

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