As mudanças no sistema de transporte da região metropolitana de Curitiba devido ao fim da tarifa integrada causaram protestos ontem. Em Araucária, um grupo de 500 pessoas invadiu o terminal no fim da tarde para protestar contra o aumento de custos no trajeto até a capital. Com o fim da integração da tarifa, o trecho entre Araucária e Curitiba passou a custar R$ 5,80. Isso ocorre porque a desintegração afetou também o transporte municipal da cidade vizinha.
Desde ontem, não há mais integração entre os ônibus do Transporte Integrado de Araucária (Triar) com os terminais que fazem a integração com Curitiba. Ou seja: o usuário paga R$ 2,50 para uma linha alimentadora e precisa desembolsar mais R$ 3,30 para entrar no terminal e pegar um ônibus até a capital. Por enquanto, permanecem integrados o ligeirinho Curitiba/Araucária, que para no Terminal Capão Raso, e o troncal Araucária/Pinheirinho, que vai até o Terminal Pinheirinho.
Na prática, quem vai de Araucária a Curitiba paga R$ 11,60 para ir e voltar. Em nota, a prefeitura de Araucária se exime da responsabilidade pela alta no custo do transporte. O município alega não ter sido consultado sobre a mudança e põe o reajuste na conta da Urbs e da Comec.
Tempo
Para os moradores de Colombo que precisam se deslocar por Curitiba, a desintegração também gera perda de tempo. A linha Colombo/CIC foi substituída pela CIC/Cabral e não vai mais até o Terminal Maracanã. Agora, quem sai de Colombo tem duas opções de ônibus ligeirinho para fazer a integração no Cabral: o Colombo/Guaraituba ou Maracanã/Cabral. Com isso, o usuário que conseguia praticamente cruzar Curitiba no Colombo/CIC agora precisa descer no Cabral e fazer mais uma baldeação para ir a outro ponto da cidade.
O promotor de vendas Edson dos Santos, 43 anos, foi um dos prejudicados. Ele sai do terminal Guaraituba e precisa chegar ao Capão Raso todos os dias. Para ele, a integração com Curitiba já acontecia no Maracanã, ainda em Colombo. "Fico aqui esperando enquanto já poderia estar no centro se fosse um ônibus só."
A assistente administrativa Edineia de Freitas, 37 anos, engrossa o coro dos descontentes. "Eu levava uma hora para chegar ao trabalho. Agora já demora uma hora e meia". Para ela, o pior é pegar o ônibus em Colombo, porque a frequência das linhas é ruim.
A vendedora Maria Carolina Bertoncello, 18 anos, mora em Araucária e sempre dependeu de ônibus para chegar ao trabalho, no Portão, em Curitiba. Antes, com uma passagem ela saía de Araucária com um ônibus municipal e, com a integração, chegava sem problemas na capital. Mas, anteontem, ela foi surpreendida com a notícia de que tinha sido demitida. "Minha chefe disse que não ia pagar quatro passagens para mim por dia sendo que poderia pagar apenas duas para outra pessoa que mora perto. Foi ridículo o que fizeram com a população, sem contar que agora somos tratados como animais, com uma 'cela' separando a gente nos terminais."
Cleusa Alves, 53 anos, trabalha em uma indústria na CIC e viu seu tempo livre com a família se esvair com as mudanças nos ônibus. Antes, ela pegava um ônibus municipal e com o ligeirinho Araucária chegava ao Terminal CIC, de onde pegava um alimentador até o trabalho. Gastava 30 minutos. Com as mudanças, passou a gastar duas horas para chegar ao mesmo lugar. Agora ela precisa pegar um ônibus até o Capão Raso para só então chegar ao terminal CIC e pegar o mesmo alimentador de antes. "Moro há 30 anos aqui em Araucária e para mim nunca foi tão difícil e caro chegar a Curitiba."
Tribunal retoma julgamento de relatório da tarifa
O Tribunal de Contas do Paraná vai retomar na próxima quinta-feira o julgamento do relatório da auditoria que apontou irregularidades na tarifa de ônibus cobrada em Curitiba e região metropolitana. Segundo o TC, há a possibilidade de o relatório ser ampliado porque a desintegração parcial da Rede Integrada de Transporte (RIT) deveria ter provocado redução na tarifa da capital, não um aumento. Neste mês, a prefeitura aumentou a tarifa em 16% para pagamento em dinheiro, de R$ 2,85 para R$ 3,30.
Conforme o TC, desde a publicação do relatório, em 2013, a Urbs impetrou dois recursos de agravo, dois de declaração e dois de revisão. Todos eles são protelatórios porque precisam ser analisados antes de serem devolvidos ao relator, neste caso, o conselheiro Nestor Baptista.
O relatório da auditoria do TC mostrou que a tarifa deveria ser 16,7% menor do que a praticada na época (R$ 2,70). Desde então, a prefeitura já realizou dois reajustes o primeiro em novembro de 2014, quando passou a custar R$ 2,85, e o segundo neste mês: R$ 3,30 para pagamento em dinheiro e R$ 3,15 para quem usa cartão transporte.
Segundo os auditores do tribunal, foram constatados problemas na composição tarifária. Entre os itens irregulares estão indícios de cartelização do sistema, anomalias na composição de custos e concessão de gratuidades e fragilidade da fiscalização do Sistema de Bilhetagem Eletrônica, que afere os passageiros transportados por dia.