Solo

Impermeabilização, sempre ela

Apesar da atual estabilidade na taxa de crescimento populacional, Curitiba e região metropolitana cresceram muito nas últimas décadas. O acréscimo no número de habitantes fez com que espaços vazios que até então ajudavam a drenar a água da chuva virassem prédios, casas e comércios. "A urbanização se expandiu e a impermeabilização do solo aumentou. Isso faz com que as águas cheguem mais rapidamente aos canais, que transbordam e causam as enchentes", diz o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, Carlos Hardt. Para o professor da UFPR Eduardo Gobbi, a água não tem mais para onde escoar em Curitiba. "As enchentes são e farão cada vez mais parte do nosso cotidiano. A cidade cresceu, os espaços foram ocupados", afirma.

De acordo com um estudo elaborado pelo professor da UFPR e engenheiro civil Roberto Fendrich, em 1820, Curitiba tinha apenas 0,12% de seu território impermeabilizado. Em 2000, o índice passou a 18,24% e a previsão para 2020 é de chegar a 26,53%. Na bacia do Rio Belém, onde vive metade da população de Curitiba, a situação será pior: 90% da área estará impermeabilizada em 2020.

Segundo a prefeitura, Curitiba exige a implantação de caixas de contenção de águas pluviais em novas construções para tentar diminuir o impacto da chuva. A área impermeável do terreno é definida de acordo com o tamanho dele. A medida é aplicada em empreendimentos residenciais ou comerciais. Segundo um levantamento da Secretaria de Obras, Curitiba tem hoje 150 mil metros cúbicos de caixas de contenção.

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Minimizar os impactos das chuvas não é uma tarefa tão complexa, afirmam especialistas. O problema são os custos e o tempo para fazer as obras necessárias que, via de regra, esbarram na falta de recursos. Em Curitiba, a principal medida para enfrentar as inundações a longo prazo é a implantação do Plano Diretor de Drenagem (PDD), que pretende nos próximos 18 meses mapear as bacias hidrográficas da capital e fixar diretrizes urbanas e ambientais para tentar conter as cheias, incluindo projetos e ações. Mas o plano – orçado em R$ 3 milhões – não é uma unanimidade.

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Para a professora de mestrado da Universidade Positivo Selma Aparecida Ribas, especialista em Recursos Hídricos, as ações de combate às enchentes têm de ser implementadas imediatamente. "Se o plano realmente sair do papel, serão feitos os prognósticos, depois as obras, que precisam de licitação. Ou seja, serão alguns anos de espera por obras que deveriam ter sido feitas há tempo", opina.

Na opinião do coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Carlos Hardt, o PDD não pode ser desintegrado. Ele deve andar junto com outros planos, como o de zoneamento e uso e ocupação do solo. "Caso contrário, perde a validade. Se não for integrado com o Plano Diretor, por exemplo, ele vai trabalhar apenas o efeito e não a causa", analisa.

De acordo com o secretário de Obras Públicas de Curitiba, Mário Yoshio Tookuni, o Plano de Drenagem será o primeiro do município e deverá conter um diagnóstico sobre as condições dos rios Atuba, Iguaçu, Barigui, Belém, Padilhas e Passaúna, e incluir medidas para a preservação das nascentes. "O plano é de longo prazo mesmo e será integrado. Por ser um plano completo, ele vai indicar as ações necessárias para cada bacia de Curitiba", explica.

O secretário de Obras diz que é possível resolver as enchentes de Curitiba. "Não é muito difícil, mas é muito caro. Outro problema é a falta de ação integrada [com outros municípíos]. Com exceção do Rio Belém, todos os grandes rios nascem fora de Curitiba. Precisamos de apoio do governo federal e do estado. Passamos quase uma década sem apoio. Não adianta resolver aqui, sem melhorar em Almi­rante Tamandaré", explica.

Tookuni diz que a prefeitura está trabalhando para evitar as cheias. E cita como exemplo a criação do Parque da Imigração Japonesa – que está concluído e serve de bacia de contenção para o Rio Iguaçu, no bairro Ubereba –, o trabalho de limpeza de rios e a execução de obras de macrodrenagem. "O prefeito Ducci está em Brasília para conseguir R$ 144 milhões para melhorar o escoamento do Rio Barigui. Nós temos os projetos prontos, vamos construir caixas de retenção [piscinões] ao longo do rio", afirma.

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Ocupação irregular

Na opinião do professor da Universidade Federal do Paraná e engenheiro ambiental Eduardo Gobbi, especialista em Recursos Hídricos, o essencial, além das obras de escoamento, galerias, piscinões, desassoreamento, é a retirada das pessoas das áreas de risco. "Precisamos retirar essas pessoas das áreas de riscos e realocá-las. Outro ponto importante é a criação de um plano de contingência eficiente, para que as pessoas sejam avisadas sobre a chuva com antecedência", diz.

O secretário afirma que a prefeitura está fazendo a realocação de famílias do projeto Viva Barigui que vivem em áreas de risco. Segundo ele, 580 famílias já foram removidas e outras 224 famílias vão receber novas moradias.