Pesquisadores da Fiocruz em Pernambuco estão investigando se o mosquito Culex quinquefasciatus, também conhecido como pernilongo ou muriçoca, pode transmitir o vírus da zika.
A inquietação dos especialistas surgiu ao perceberem que na Micronésia Francesa, em 2007, quando foi registrado o primeiro surto da doença, havia uma população ínfima de Aedes aegypti, mosquito que é o vetor da doença no Brasil, e uma infestação preocupante de Culex.
“Em ambientes silvestres foi encontrado o vírus zika em outros tipos de Aedes e no Culex. Por que na área urbana haveria apenas um vetor? É isso que queremos entender”, disse Constância Ayres, entomologista e coordenadora da pesquisa.
Para constatar a transmissão do vírus da zika, os pesquisadores infectaram 200 mosquitos Culex. Todos terão as glândulas salivares e os aparelhos digestivos examinados.
“Se for encontrado o zika nesses materiais, principalmente na glândula salivar, teremos um forte indício de que o Culex é também vetor da doença. Aí será preciso uma pesquisa em campo para confirmar. Se não, vamos estudar qual o gene do inseto que bloqueia a ação do vírus [no Culex]”, disse Ayres.
A conclusão dessa fase da pesquisa deve ser divulgada até o fim de fevereiro. Dependendo do resultado, as ações de combate a proliferação da doença provocada pelo vírus da zika podem mudar completamente. “Ao contrário do Aedes aegypti, o Culex coloca seus ovos em água suja, como fossas e esgoto. Então, será preciso priorizar o saneamento básico em todo o país”, disse a pesquisadora.
O pernilongo tem hábitos distintos do Aedes, o que, segundo Ayres, aumentará a necessidade de a população redobrar os cuidados para não ser infectada. “Enquanto o Aedes aegypti se alimenta do sangue humano durante o dia, o Culex faz isso à noite”, disse.