Quatro em cada cinco pessoas em todo o mundo utilizam produtos à base de ervas para tratamento de problemas de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, a procura por medicamentos fitoterápicos segue o mesmo interesse. Cada vez mais eles são vistos como uma alternativa de tratamento para problemas como ansiedade, insônia, bronquite, dor de cabeça, reumatismo e gastrite. A pesquisa na área também revela o crescimento do interesse: no início dos anos 80, os trabalhos eram limitados a algumas dezenas por ano. Nos últimos quatro anos, cerca de 5 mil estudos foram publicados por pesquisadores brasileiros.
E engana-se quem pensa que o único foco das pesquisas está na Amazônia. O Paraná ocupa atualmente o posto de maior produtor de matéria-prima cultivada. Para o médico fitoterapeuta e membro da Comissão de Fitoterápicos e Plantas Medicinais do Ministério da Saúde, Luiz Antônio Costa, uma das razões para a fitoterapia estar se tornando cada vez mais popular está na formação da classe médica. Segundo ele, os médicos e pacientes estão conhecendo mais e acreditando no poder curativo das plantas. A aposentada Ruth Schenfeld, 72 anos, sofreu por cerca de 10 anos de artrose. Consultou diversos especialistas, tentou uma infinidade de tratamentos com drogas convencionais, mas encontrou na fitoterapia um alívio para as dores. Ruth tomou um medicamento à base de curcumina, substância derivada do açafrão-da-índia e que apresenta propriedades antiinflamatórias. "Tomei durante um mês, já me sinto bem melhor. Consigo dormir bem à noite, coisa que não fazia por causa das dores, e consegui voltar a fazer ginástica", conta.
Além da vantagem de apresentar menos efeitos colaterais, os medicamentos fitoterápicos em geral têm custo menor. "Enquanto um medicamento convencional leva de 10 a 15 anos para ser sintetizado e demanda um custo aproximado de US$ 500 milhões a 1 bilhão, um fitoterápico custa em média US$ 3 milhões e pode ser validado no período de 3 a 5 anos", afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Plantas Medicinais, Roberto Leal Boorhem. O setor conta hoje com cerca de 200 empresas, movimenta anualmente R$ 1 bilhão e emprega 100 mil pessoas, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico (Abifisa).
Apesar de todos os benefícios já reconhecidos, os especialistas advertem que são necessários alguns cuidados na hora de optar por um tratamento alternativo. No mercado brasileiro, é possível encontrar produtos à base de ervas não só em farmácias, mas também em prateleiras de supermercados e lojas de produtos naturais. Se por um lado a facilidade de acesso é boa, por outro ela ocasiona cada vez mais a automedicação. "As pessoas acham que, se o produto é natural, não faz mal. Não é bem assim. Tanto as plantas medicinais como os medicamentos convencionais apresentam contra-indicações e provocam reações adversas", alerta o vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, Everson Augusto Krum. "O mais importante é seguir as orientações de dosagem do fabricante e as orientações do médico. Em caso de reação adversa descontinue o uso, procure o médico e informe o laboratório, para fazer o registro desta reação para acompanhamento da farmacovigilância", diz a pesquisadora Anny Trentini, do grupo técnico da Abifisa.
Para Costa, é fundamental que o paciente informe o médico sobre outros medicamentos que esteja tomando, porque pode haver interação entre os próprios fitoterápicos ou na utilização em conjunto com drogas convencionais. "Cada planta tem o que chamamos de droga vegetal, que é onde está o princípio ativo com poder medicinal. Entretanto, existe uma infinidade de outras substâncias que podem ter alguma propriedade tóxica. Por isso é importante consultar um médico", afirma.