Em 16 anos, o número oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção aumentou mais de quatro vezes. A nova lista do Ministério do Meio Ambiente (MMA), divulgada nesta sexta-feira (19), incluiu 472 espécies, ante 108 em 1992, última relação oficial disponível. No entanto, há uma segunda lista com mais 1.079 espécies que também podem estar ameaçadas. O MMA alega que a "deficiência de dados" não permitiu a inclusão do grupo "com segurança" na condição de ameaçado. Essa últimas espécies, portanto, não ficarão sujeitas às restrições previstas na legislação para aquelas incluídas na lista oficial: proibição de corte, transporte e comercialização.
Apesar de admitir que o "número verdadeiro de ameaçadas seguramente é maior" que 472, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou que "não há informação suficiente e não há certeza" sobre a situação das 1.079 espécies. Para ele, a inclusão do grupo na lista oficial "aparentemente é uma posição mais defensiva", mas na verdade isso "vulgariza e cria um número que não se terá condições de proteger". "Proteger firmemente com a lei as 472 e dar prazo e meios para os cientistas definirem quais das outras mil estão efetivamente ameaçadas é o caminho mais seguro", declarou. Os prazos, que segundo Minc serão diferenciados por espécie, não foram divulgados. O trabalho será feito pelo Jardim Botânico do Rio.
A lista oficial das espécies foi elaborada pela Fundação Biodiversitas sob encomenda do MMA. Minc atribuiu à entidade a decisão de não incluir as 1.079 espécies na relação oficial. Mais da metade (276) das espécies oficialmente ameaçadas estavam no bioma Mata Atlântica. "Estamos falando da faixa do litoral onde sobrou 8%. E é onde se concentra a população, a indústria, as atividades portuárias etc.", comentou Minc. Para ele, a ampliação do conhecimento científico também explica parte do aumento. "Em parte, se pesquisa mais, se conhece mais. Em outra, se agride mais, se corta mais, se queima mais."
O Cerrado tinha 131 espécies ameaçadas, seguido pela Caatinga (46), Amazônia (24), Pampa (17) e Pantanal (2). A soma é superior ao total de espécies ameaçadas porque algumas estão presentes em mais de um bioma. Nenhuma espécie da lista de 1992 foi excluída. Quanto às regiões, o Sudeste apresentou o maior número de ameaçadas (348), ante 168 no Nordeste, 84 no Sul, 46 no Norte e 44 no Centro-Oeste. Minas Gerais foi o Estado com mais espécies sob ameaça (126), seguido por Rio de Janeiro (107), Bahia (93), Espírito Santo (63) e São Paulo (52). O pau-roxo, espécie de interesse madeireiro, originário da Amazônia, foi adicionado à lista, entre outras espécies valorizadas como o palmito jussara, de uso alimentício. O ministro defendeu a criação de mais unidades de conservação e o reflorestamento com espécies nativas como medidas para conter a ameaça à flora.
Em discurso, Minc afirmou que não vai "esconder o sol com a peneira". "Política de avestruz, que história é essa? A gente tem é que bater no peito e dizer: sociedade, cada um tem que fazer a sua parte, senão, daqui a pouco, os nossos netos só vão conhecer essas espécies nos jardins botânicos e museus de história natural, e não na natureza."
Ele admitiu que a decisão de não incluir as 1.079 é polêmica, mas afirmou que foi adotado o critério "mais rígido e seguro". "É saudável que haja polêmica. Não temos nenhuma vergonha de dizer (depois) que há mais ameaçadas." Há 40 anos, na primeira lista oficial, de 1968, havia 13 espécies ameaçadas de extinção.
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