Quem acordou ontem, no Dia Mundial sem Carro, com a esperança de ver menos automóveis nas ruas e mais gente usando ônibus e bicicleta se frustrou. Nas principais cidades do país, a sensação é de que a campanha não obteve a adesão dos motoristas e as vias continuaram congestionadas.Em São Paulo, a lentidão registrada ontem estava dentro da média diária 73 km, ou 8,6% dos 868 km de vias monitoradas estavam congestionados às 9 horas, o maior pico do dia. Em Belo Horizonte, os mineiros praticamente ignoraram a recomendação de deixar o carro em casa e enfrentaram mais um dia de trânsito caótico. Em Curitiba não houve um balanço da adesão ao Dia Sem Carro, mas quem circulou pelo Centro não notou diferença no fluxo de veículos.
A psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conta que, ao passar pela Avenida Visconde de Guarapuava quando se dirigia ao trabalho, notou filas e congestionamento. Chegou até a presenciar um início de briga de trânsito. "A impressão é de que a adesão foi bem abaixo do esperado", opina.
De acordo com ela, a falta de conscientização das pessoas e a busca pelo conforto individual, em detrimento do bem comum, explicam o fato de os motoristas ignorarem a campanha. "A pessoa reclama do trânsito, mas não se dá conta que faz parte do problema. Muitos pensam: Que bom que existe um dia como esse, assim, muita gente vai deixar o carro na garagem. A pessoa, no entanto, não deixa por achar que, para ela, o carro é imprescindível".
Embora o cidadão não enxergue que também é responsável pelo "estrangulamento" do trânsito, o poder público, por outro lado, não investe suficientemente em outros modais. "O sistema público não atende a população. Esse não é um problema de hoje. Há muito tempo que o nosso transporte deixou de ser modelo. Além disso, não há políticas públicas focadas em outros modos de deslocamento, como a bicicleta", analisa Iara.
Surpresa
Muitos dos curitibanos que saíram de casa de carro ontem alegaram que não sabiam da data. "Só soube na hora do almoço, pela tevê", diz a florista Silvana Luciana Silva, de São José dos Pinhais. "Até sabia que o dia estava próximo, mas não que era hoje", comenta o economista Nelson Luiz Mingorance. Para o engenheiro civil e professor do Departamento de Transportes da UFPR, Eduardo Ratton, a falta de divulgação comprometeu o sucesso da campanha. "Muitas pessoas nem sabiam", opina.
O professor analisou como correta a decisão da prefeitura de não fechar ruas. Para Ratton, seria necessário haver maior planejamento para colocar mais ônibus à disposição da população e providenciar para que veículos com prioridade de locomoção, como ambulâncias, não fossem prejudicados. O especialista aponta que somente um sistema de transporte mais barato e eficiente convencerá a população a abrir mão do automóvel. "O sistema tem de ser subsidiado, pois é muito caro, e isso desestimula as pessoas. Se o trajeto for inferior a sete quilômetros, compensa mais ir de carro. É preciso pensar em alternativas".