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O líder do prefeito na Câmara desautoriza o secretário de Gestão Pública quanto à renovação do contrato sobre a merenda escolar, critica duramente o superintendente da Caapsml e entra em rota de colisão com a Secretaria de Cultura no debate sobre uma lei da qual ele é autor. O assessor de Recursos Hídricos da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) vive em clima de guerrilha com o titular do órgão e denuncia a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) por crime ambiental. E tudo isso em público, por meio da imprensa ou do plenário do Legislativo.

As cenas descritas aconteceram no espaço de 20 dias e em condições normais seriam interpretadas como um processo de desintegração política da administração municipal. Mas não na opinião do prefeito Nedson Micheleti (PT), o chefe da administração: "eu dou liberdade para o meu líder na Câmara se manifestar", disse Nedson na quarta-feira, sem demonstrar preocupação com as críticas do vereador Gláudio de Lima (PT) a Jacks Dias (Gestão Pública) e Eduardo Tolomeoti (Caapsml) e com as estocadas do parlamentar na Secretaria de Cultura.

Sobre o ambientalista João Batista de Souza, o "João das Águas", o autor da denúncia contra a CMTU por crime ambiental e adversário de Gérson de Silva numa guerrilha dentro da Sema, Nedson disse respeitar o trabalho dele em defesa do meio ambiente e seu modo (sempre barulhento) de criticar algumas posturas da administração no setor. Na sexta-feira, durante o lançamento do projeto "Rio da minha rua", no gabinete, Nedson não poupou elogios ao ambientalista. Para o prefeito, as escaramuças não representam uma crise.

Pré-eleitoral

A avaliação do vice-prefeito Luis Fernando Pinto Dias sobre o fogo amigo na gestão municipal mostra que um consenso interno é difícil: para ele, a escalada de críticas mútuas é reflexo de uma espécie de tensão pré-eleitoral. "É o inicio da campanha (eleitoral) e não um desmantelamento político", diagnosticou Dias. Para ele, o tiroteio acontece em diversos partidos, mas tem mais visibilidade em quem está exercendo o poder. "A essa altura já começam as especulações sobre quais secretários serão candidatos a vereador e os secretários viram alvos", avaliou.

Gláudio de Lima, o protagonista de algumas das cenas de autofagia da administração, afirmou que as situações protagonizadas "são questões diferentes". O caso da Caapsml ele classificou como uma "questão pontual", reflexo da postura de Tolomeoti à frente do órgão que já foi comandado por ele. Com relação à merenda, o vereador afirmou que sua posição foi referendada pelo prefeito, que, desautorizando Jacks Dias, determinou uma nova licitação.

O caso em que o líder do Executivo identifica o embate "lei seca" x Secretaria de Cultura, é o único no qual ele vê disputa pré-eleitoral – e nesse sentido faz análise semelhante à do vice-prefeito: "no período eleitoral cada segmento tem a sua postura", declarou. "Não vejo crise."

Reunião prepara "travessia" até a eleição

Na tentativa de afinar o discurso do seu governo, o prefeito Nedson Micheleti (PT) convocou o secretariado para uma reunião na última terça-feira, na tentativa de acalmar ânimos internos. No encontro, o prefeito ditou três normas de procedimento: cuidado com a dengue, evitar problemas com a Câmara e centralizar entrevistas sobre questões polêmicas no prefeito.

O recado aos secretários tem um objetivo claro: evitar turbulências na travessia do período que vai do final de ano até março, quando vence o prazo para a desincompatibilização dos candidatos a cargos eletivos. O raciocínio da administração é que, neste momento, todos os secretários podem ser vistos como pré-candidatos a vereador, o que os torna presa fácil em polêmicas com a Câmara e a oposição. Em março, quando os candidatos saírem da administração, deixando o cenário eleitoral mais claro, o "toque de recolher" deve ser suspenso.

Um dos sintomas da nova ordem interna da administração é a mudança do tom adotado pelo secretário do Ambiente, Gérson da Silva, com relação ao assessor de recursos hídricos da Sema, João Batista de Souza, o "João das Águas". "Eu discordo da forma como ele atua, mas tenho que respeitar o histórico dele, assim como ele deve respeitar a nossa história", declarou Silva, num tom bem mais ameno do adotado durante a semana com relação ao seu assessor e antípoda eventual.

O secretário justificou as escaramuças públicas da administração afirmando que "o governo permite divergências salutares". "Fazer administração troglodita, fazendo rolo compressor é fácil. Difícil é governar com pluralidade, como fazemos", discursou.

João das Águas, teoricamente o lado mais fraco dessa disputa, acabou a semana prestigiado: foi elogiado por Nedson no gabinete, viu o projeto "Rio da minha rua" implementado e saboreou a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) sendo enquadrada pelo Ministério Público e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) na questão do fundo de vale do Córrego do Rubi.

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