Brasília Recebida com elogios públicos, a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, sobre o mensalão foi o resultado de um processo marcado por crises e divergências.
Durante as investigações, a equipe de Souza entrou em atrito com a Polícia Federal.
A disputa culminou na abertura de inquérito disciplinar contra um dos procuradores que participaram das apurações, Eugênio Aragão, acusado pelos delegados de "obstruir as investigações".
Desde o início do inquérito, os dois lados trocaram acusações sobre o papel de cada um na apuração sobre as contas do publicitário Duda Mendonça nos Estados Unidos.
Houve um choque sério quando um grupo formado por policiais e procuradores viajou a Nova Iorque para pegar papéis liberados pela autoridades americanas. A PF acusou Aragão de tentar impedir o acesso aos extratos do marqueteiro versão contestada pela equipe do Ministério Público e pelos promotores dos Estados Unidos.
Procuradores se enfureceram com o fato do corregedor-geral do Ministério Público, Eitel Santiago, ter levado a sério as acusações, ao abrir inquérito para apurar o caso, o que pode levar à punição de Aragão.
Em mensagem distribuída pela rede interna de computadores do Ministério Público, Aragão contou que seu papel na viagem era garantir que os documentos fossem enviados ao Brasil pelos canais formais, para assegurar que possam ser usados como provas.
"Fiquei pasmo, tamanho o absurdo", desabafou aos colegas "O domínio da língua inglesa pelos componentes da missão policial é indiscutivelmente sofrível. Talvez por conta desta circunstância, (os delegados) não conseguiram retratar com fidelidade os fatos ocorridos na reunião, em que se falou exclusivamente em inglês."
Na mesma rede interna, a procuradora Raquel Branquinho, que trabalhou nas investigações do caso, foi dura com a Polícia Federal.
"Apesar do tal documento produzido pela polícia apenas para justificar a ida de seis delegados da Polícia Federal aos EUA, as análises da documentação tiveram que ser efetuadas pelo próprio Ministério Público, porque apesar de todo o impacto na mídia, o trabalho discreto, mas que traz resultados não foi constatado até agora em relação à atuação policial nesse caso", criticou.
A questão é que faltou sintonia entre os órgãos incumbidos da apuração e sobraram cotoveladas.
Peritos e deputados que trabalharam na CPI dos Correios consideram que os procuradores não avançaram nas investigações, se comparado ao que foi apurado pela comissão parlamentar.
"Os procuradores só pegaram o material produzido pela CPI, usaram termos mais fortes e fizeram os enquadramentos finais", criticou um dos técnicos mais ativos da comissão de inquérito.
"O que eles fizeram esses meses todos?"
Deputados e técnicos reclamam que nem sequer conseguiam conversar por telefone com a equipe do Ministério Público.
Na avaliação de congressistas, o bloqueio imposto pelo procurador-geral foi prejudicial para os trabalhos. "Se o MP tivesse colaborado mais, as duas instituições teriam produzido relatórios mais consistentes", acredita um dos sub-relatores da já encerrada CPI.
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