Entre famílias onde falta comida, 10% têm web, carro ou celular
A maior parte (43,3%) das famílias que enfrentaram falta de alimento em 2013 tentou resolver a dificuldade comprando fiado, aponta a pesquisa do IBGE. A segunda maior estratégia foi pedir alimentos emprestados a outras pessoas. Em menor incidência, houve quem tenha deixado de comprar alimentos supérfluos; pedido dinheiro emprestado; reduzido o consumo de carnes e recebido doações, entre outras respostas. Grande parte das pessoas que vivem em insegurança alimentar grave está em áreas de difícil acesso e de extrema pobreza do Norte e Nordeste.
Dez por cento dos domicílios com insegurança alimentar grave tinham microcomputador com acesso à internet em 2013. A situação surpreendente se repete quando são examinados os porcentuais referentes a lares nessa situação que tinham outros eletrodomésticos. Em 13,8%, havia micros sem web; em 88,4%, televisão; em 21,8%, máquina de lavar roupa; em 85,8% geladeira; e em 93,5%, fogão. Esses porcentuais cresceram se comparados a 2009.
A situação se repete em relação à posse de outros bens de consumo. Entre os lares com insegurança grave, a proporção daqueles que tinham motocicleta, de 2009 a 2013, foi de 7,1% para 12,95%. Os domicílios nessa situação com automóvel foram de 5,8% para 8,9%. Essas residências apenas com celular cresceram de 47,3% para 64%.
A fome caiu 1,8 ponto porcentual no país entre 2009 a 2013, segundo o suplemento sobre segurança alimentar da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgado ontem pelo IBGE. Em números absolutos, 7,2 milhões de pessoas viviam em 2,1 milhões de lares em que alguém se encontrava em estado de insegurança alimentar grave em 2013.
Para o IBGE, estar na chamada "insegurança alimentar grave" é, na prática, passar fome. Estão nessa categoria as pessoas que, nos últimos três meses, tiveram de reduzir a quantidade de comida oferecida às crianças ou que têm pelo menos um integrante do domicílio que passou um dia inteiro sem se alimentar por falta de dinheiro. Os domicílios brasileiros na "insegurança alimentar grave" caíram de 5% para 3,2% entre 2009 e 2013. Há 10 anos, eram 6,9%.
A pesquisa abrange todos os 65,2 milhões domicílios. Para a amostra, foram visitados 148,7 mil lares nas cinco regiões do país. Os entrevistados responderam se tiveram problemas de acesso à comida nos últimos três meses.
O IBGE investigou quatro situações: segurança alimentar, que é quando os integrantes de determinado domicílio têm acesso regular e permanente a alimentos sem comprometer acesso a outras necessidades essenciais; insegurança alimentar leve, quando há incerteza quanto ao acesso a alimentos no futuro; insegurança moderada, que é quando há ruptura no padrão alimentar resultante da falta de alimentos; e a insegurança grave, que é quando de fato falta alimento no domicílio.
A pesquisa mostrou que aumentou a segurança alimentar no país como um todo, assim como caiu as três situações de insegurança alimentar, indicando redução da fome e também do risco de ela bater à porta do brasileiro.
Serviços básicos
Ainda que a fome tenha sido reduzida de maneira generalizada no país, a pesquisa mostrou que quem se encontra em algum dos três tipos de insegurança alimentar vive atualmente em condição pior no que diz respeito ao acesso aos serviços públicos básicos em relação a quem estava nessa situação em 2009.
Houve queda no porcentual de domicílios em alguma das três faixas de insegurança com acesso a coleta de lixo, abastecimento de água, rede de esgoto e com banheiro em casa. Esses indicadores, contudo, melhoraram na faixa dos domicílios que registraram segurança alimentar, formada por pessoas de rendimento mais alto.
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