Cristina tem quatro filhos e espera o quinto: fome no fim do mês| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo
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Bolsa Família é gasta com comida

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em junho deste ano com 5 mil beneficiários do Bolsa Família mostrou que quase 90% dos usuários usam o benefício para a compra de alimentos. O programa contribuiu para o aumento do consumo de proteínas, como leite e seus derivados, açúcares e vegetais. A transferência de renda é apontada pelos pesquisadores como uma das principais razões da diminuição da fome no Brasil, pois possibilitou que famílias comprassem alimentos básicos como arroz e feijão.

O estudo mostra que os beneficiários gastam em média R$ 200 mensais com a compra de alimentos, o que representa 56% da renda. Outra constatação é que quanto menor a renda, maior é o porcentual gasto com alimentação. "Não devemos nos dar por satisfeitos com os resultados obtidos, até porque a fome não acabou", diz Chico Menezes. "Apesar dos avanços, o Bolsa Família precisa ser aperfeiçoado, criando-se as condições para que as pessoas possam através de outras iniciativas alcançarem uma emancipação." (PC)

Conheça alguns programas na área de segurança alimentar

Hoje, no dia mundial da alimentação, o Brasil finalmente tem algo para comemorar: o número de pessoas que passam fome diminuiu pela metade na última década. Com as políticas públicas na área de segurança alimentar, o país conseguiu atingir antecipadamente o primeiro Objetivo do Milênio, que é reduzir pela metade a miséria e a fome até 2015. Em 2004, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), havia 6,5% da população com insegurança alimentar grave, na iminência de passar fome. Em 2006, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) afirma que esse porcentual já havia diminuído mais 2%.

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No estado do Paraná, são investidos mais de R$ 50 milhões por ano em programas como o Compra Direta, que adquire alimentos direto de produtores rurais e os repassa a escolas, abrigos e creches, e o Restaurante Popular, que oferece refeições de baixo custo. Crispin Moreira, diretor da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar, diz que 25 % dos domicílios mais pobres deixaram de passar fome. "Agora a meta é combinar transferência de renda e acesso à alimentação de qualidade".

Mas, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda existem no Brasil 14 milhões de pessoas passando fome, quase a população de Portugal. Esse é o caso de Cristina de Lima Rodrigues, 24 anos, zeladora. Ela tem quatro filhos, de 2, 4, 5 e 6 anos. Grávida de cinco meses, ela sustenta sozinha a casa com R$ 470 mais os R$ 120 do Bolsa Família. Com esse di-nheiro, paga R$ 200 de aluguel, água, luz e comida. Com a renda, ou a falta dela, muitas vezes no fim do mês nem o arroz e o feijão estão no armário.

O pai das crianças foi embora em função da bebida e não paga pensão. "Meu sonho é ter um terreninho para não pagar aluguel, pois no final de todo mês passamos aperto", diz. "Quero que eles (os filhos) estudem e tenham um futuro melhor que a vida que eu tive, pois já passei muita fome."

Desafio

A pesquisa realizada pelo IBGE mostra que, em 2004, 60,2% dos moradores em domicílios particulares do país, o equivalente a 109 milhões de pessoas, estavam em segurança alimentar, ou seja, alimentavam-se de forma correta. Apesar disso, por outro lado, havia 34,8% dos domicílios em situação de insegurança alimentar (IA), onde residiam cerca de 72 milhões de pessoas. Esse índice de IA é dividido em leve, moderado e grave.

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Crispin Moreira afirma que o desafio do país nos próximos anos será atender justamente as pessoas que têm IA leve ou moderada. "É a população que teve restrições ou falta de dinheiro no final do mês, que impossibilitou a compra de mais alimentos", explica. "Para atendê-las, precisamos fortalecer as áreas de trabalho, renda e educação de forma geral."

Dulcelene Gaída, 32 anos, tem uma história semelhante à de Cristina. Ela é mãe de quatro filhos, com 13, 12, 5 e 2 anos, e também foi abandonada pelo marido. As crianças foram abrigadas em função da pobreza da família, já que os únicos alimentos que tinham em casa eram arroz, óleo e açúcar. Antes do fim do casamento, ela trabalhava como zeladora em dois locais e o marido ficava com os filhos. "Fico muito triste, pois sempre fui apegada a eles e sei que estão sofrendo com a minha falta."