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Ataques de hackers já provocaram pelo menos dois apagões que afetaram ao mesmo tempo várias cidades do Brasil nos últimos quatro anos, segundo fontes da CIA e da área de segurança dos Estados Unidos. As informações foram divulgadas pela imprensa dos EUA. Um ex-diplomata americano ouvido pelo O Globo confirmou a denúncia. Segundo as fontes americanas, os apagões em questão aconteceram em 2005, no Rio de Janeiro, e em 2007, no Espírito Santo e norte do Rio, este último afetando milhões de pessoas. Órgãos brasileiros não confirmam as informações de oficiais americanos e não há provas até agora de que o apagão de terça-feira tenha sido causado por um ciberataque.

"Fui informado por fontes confiáveis da CIA e do departamento de Defesa de que os ataques mencionados publicamente no passado pela própria CIA e pelo presidente (Barack) Obama aconteceram no Brasil", afirmou James Lewis, ex-diplomata americano e hoje especialista em cibersegurança do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington.

No ano passado, quatro meses depois de assumir o cargo, Obama citou os ataques para afirmar que a possibilidade de uma guerra virtual no mundo tinha deixado o campo da teoria. O presidente americano decretou a segurança cibernética uma prioridade nacional.

"Sabemos que invasores cibernéticos testaram nossa rede elétrica, e que em outros países ataques cibernéticos deixaram cidades inteiras no escuro", afirmou, sem mencionar o país. "Está claro que a ameaça cibernética é um dos desafios econômicos e de segurança nacional mais sérios que enfrentamos como nação", acrescentou.

Em 2008, o principal analista de ciberssegurança da CIA havia anunciado que hackers invadiram o sistema de companias de serviço público fora dos EUA fazendo exigências. Em pelo menos um caso, acrescentou, eles haviam provocado um apagão em várias cidades. A CIA, na época, também não revelou o país.

"Não sabemos quem executou esses ataques e por que, mas todos envolveram invasores através da internet", afirmou Tom Donahue, da CIA, em janeiro de 2008 ao jornal "Washington Post", que considerou na época a revelação incomum.

Rumores na área de segurança americana davam conta de que os ataques mencionados teriam acontecido no Brasil, segundo o O Globo apurou três semanas antes do apagão de terça.

No domingo passado, o programa "60 Minutes" da CBS confirmou os rumores com pelo menos seis fontes gabaritadas do serviço secreto, da área militar e de organizações da área de segurança dos Estados Unidos. O programa afirma que Obama e a CIA se referiam ao Brasil em seus comentários. Segundo a revista "Wired", Richard Clarke, um dos maiores especialistas americanos em guerra cibernética, também já havia confirmado publicamente os ataques no Brasil.

Segundo a CBS, os ataques aconteceram em três cidades do Rio de Janeiro em 2005 e em várias cidades do Espírito Santo em 26 de setembro de 2007, este último afetando milhões de pessoas. Segundo a reportagem do jornal O Globo publicada na época, o apagão afetou também cidades do Norte do Rio, embora tenha se concentrado no Espírito Santo.

Lewis explica ser comum casos de extorsão por parte de hackers, mas que geralmente as empresas preferem não divulgar os ataques. A invasão, nesses casos, é feita por pequenos grupos de criminosos cibernéticos equipados com bons computadores. Ele informa que há ataques conhecidos a empresas americanas e inglesas.

"Sabe-se que a máfia russa, chineses e até brasileiros realizam ataques do gênero. Eles pedem dinheiro e, se não forem atendidos, derrubam o sistema", afirma. "Não dá para saber se o último apagão foi causado por hackers. Mas certamente esta é uma possibilidade", frisa.

Alan Paller, diretor de segurança do Sans, um megainstituto americano de treinamento e certificação na área de segurança, confirma que casos de extorsão respondem por uma grande parcela dos crimes cibernéticos.

"Não tenho informações de bastidores sobre esse caso. Mas é sim possível que um hacker tenha gerado o apagão. Ataques a empresas de serviço público são cada vez mais comuns", afirmou Paller, ressalvando que as empresas, especialmente na área de defesa e de serviços públicos, quase nunca admitem que seus sistemas foram invadidos, preferindo ficar com o prejuízo.

Ele cita casos clássicos de extorsão como o roubo, no início do milênio, de um milhão de números de cartões de crédito nos EUA. Algumas empresas chegaram a pagar 100 mil libras para não ter os dados revelados. Outro ataque famoso afetou o setor de jogos, e um terceiro, uma organização médica americana ameaçada de ter os dados dos pacientes divulgados. O quarto caso, diz, foi o anúncio da CIA de que hackers provocaram apagões.

"Muita gente acaba pagando", diz.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, não quis comentar a possibilidade de o apagão ter sido causado por algum hacker, mas afirmou que tudo será averiguado. Furnas também nega. Segundo a empresa, em 2007 a causa do apagão foi a poluição acumulada sobre os cabos de energia por conta da falta de chuvas na região por cerca de oito meses. O ex-presidente da Eletrobrás e atual diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, afirmou em entrevista à GloboNews não acreditar que o apagão de terça-feira tenha sido causado por algum tipo de sabotagem. Posteriormente, acrescentou que aparentemente não havia danos físicos no sistema, como a queda de uma torre por um raio. O diretor de Itaipu, Jorge Samek, informou que o apagão pode ter sido causado por alterações climáticas.

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