Guaíra - A fronteira paranaense foi "fechada" para a criminalidade ontem com a primeira operação conjunta entre a Força Alfa e a Polícia Federal nos 170 quilômetros do Lago de Itaipu, na região entre Foz do Iguaçu e Guaíra. A ação, com helicóptero, barcos e incursões terrestres, teve início à tarde, logo após o lançamento oficial, em Guaíra, da Força Alfa criada especificamente para cuidar das fronteiras com o Paraguai e com a Argentina.
Um contingente formado por 80 policiais da Força Alfa e por 96 do Batalhão de Choque da Polícia Militar se espalhou por toda a fronteira, com apoio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Receita Federal do Brasil. O pelotão percorreu bairros de Guaíra e a região da Ponte Ayrton Senna, na divisa com Mato Grosso do Sul. Hoje, haverá intensificação das ações em Foz do Iguaçu.
O comandante da Força Alfa, major Roberto Sampaio, diz que essa primeira operação deve durar pelo menos 40 dias. A expectativa da Secretaria de Estado da Segurança Pública e do comando da PM é reduzir homicídios, roubos e furtos nas demais cidades do estado a partir do bloqueio na fronteira. "Hoje, 70% dos homicídios de Curitiba e região metropolitana estão ligados ao narcotráfico", diz o comandante da PM, coronel Anselmo José de Oliveira. Bloqueando a entrada de drogas vindas do Paraguai, o tráfico no estado perderia força.
A criação da Força Alfa, segundo Oliveira, já fazia parte do planejamento estratégico da PM, mas ganhou força após a chacina ocorrida no ano passado em Guaíra que resultou em 15 mortes, causadas por disputas pelo tráfico de drogas. Pedidos para um patrulhamento contínuo da fronteira também já havia sido feito pelo prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi, ao Ministério da Justiça.
O objetivo da PM está em sintonia com a reivindicação da sociedade civil e de autoridades locais. O prefeito de Marechal Cândido Rondon e presidente do Conselho dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, Moacir Luiz Froehlich, lembra que as cidades do entorno do lago sentem os efeitos da criminalidade. "O contrabando acaba dentro das cidades", diz. Para ele, a iniciativa que culminou com a criação da Força Alfa é fundamental para evitar que os moradores sejam arregimentados pelo contrabando e pelo tráfico de drogas, como já vem ocorrendo.
Vice-prefeita de Guaíra, Maria Euci Venâncio diz que a chegada do pelotão foi bem recebida na cidade, que já sente o impacto econômico provocado pela falta de segurança. "Muitas empresas gostariam de se instalar em Guaíra e nos municípios lindeiros, mas por falta de segurança não se instalaram", afirma.
Para o governador Roberto Requião, a Força Alfa representa um novo modelo de integração. "Teremos sempre com as tropas da PM a presença da Receita Federal ou da Polícia Federal, diz.
Crime
A Força Alfa atuará em uma região sensível à criminalidade. Nos últimos três anos, a Polícia Federal apreendeu 212 toneladas de maconha no Paraná. Desse total, 72% foram retirados de circulação nas regiões de Foz do Iguaçu, Guaíra e Cascavel.
A criminalidade aumentou especialmente depois da instalação da nova aduana em Foz e do aperto do cerco ao contrabando e ao tráfico na tríplice fronteira. Agora, com a maior fiscalização na região de Guaíra, a polícia prevê que o crime deve fazer uma nova migração, desta vez para áreas do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina.
Trâmite
O governo do estado investiu mais de R$ 5 milhões para aparelhar a Força Alfa com equipamentos bélicos de ponta, incluindo um helicóptero Falcão II, metralhadoras, motos, viaturas 4x4, GPS, lunetas para atiradores, binóculos e barracas. O pelotão foi criado em tempo recorde a partir de um projeto submetido pelo governo à Assembleia Legislativa, no início do ano. No começo de junho, o projeto da criação da Força Alfa já estava aprovado e foi sancionado pelo governador Roberto Requião.
A professora de sociologia Keila Rodrigues de Souza, da Faculdade Uniamérica, em Foz do Iguaçu, elogia a criação da Força Alfa, desde que o trabalho do pelotão seja ininterrupto. "Não se pode fazer alarde se não tiver continuidade". No entanto, ela salienta que, além das ações de repressão, é preciso investir na geração de emprego na região de fronteira.
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