Cléderson no Morro do Baú: bicos como pintor e cortador de lenha| Foto: Daniel Castaellano/Gazeta do Povo

Comunitários contam com treinamento

Dois tipos de bombeiros atuam em tragédias como a de Santa Catarina. Os voluntários estão nas cidades onde não existe base do Corpo de Bombeiros, como Ilhota. Os comunitários fazem parte do efetivo colaborador do corpo oficial e passam por treinamento.

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"Cléderson, vá embora descansar" foi a mensagem que o bombeiro voluntário Cléderson Fonseca Siqueira diz ter ouvido pelo rádio. Ele não deveria participar do resgate de corpos. Apesar da mensagem, o voluntário continuou em ação. "O comando me mandou embora. Podem me expulsar do quartel que volto como civil para ajudar", diz. A vontade de ajudar no Morro do Baú, após a tragédia em Santa Catarina, e a adrenalina da operação o impulsionam a participar do Corpo de Bombeiros Voluntários de Ilhota sem receber salário.

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No município, não há bombeiros militares. Os voluntários foram os primeiros a chegar ao Morro do Baú, área mais crítica de Santa Catarina, onde foram registradas 39 mortes. O bombeiro voluntário Jornas Rodrigo Maciel conta que há duas semanas os voluntários receberam aviso de que as barreiras estavam deslizando e atingindo casas. Até a sede dos bombeiros da cidade estava alagada, mas os voluntários atuaram com um barco de alumínio.

Localizado na região rural de Ilhota, o Morro do Baú fica distante do comando e há dificuldade em atende aos chamados rapidamente. Quando os voluntários chegaram ao local, os moradores estavam apavorados. "Vi lá uma coisa que nunca esperei ver na minha vida", diz Maciel. Em meio às casas destruídas, as pessoas pediam socorro. O voluntário ficou cinco dias na região, até a evacuação da área. "Não é um salário de sargento que paga isso. Não tem como mensurar o valor de socorrer uma criança", afirma.

Os voluntários precisam encontrar um segundo emprego e as profissões são as mais diversas. Siqueira faz "bicos" de pintor, corta lenha e conserta lajotas. Maciel trabalhava em uma tinturaria e faz curso de vigilante. Já André da Silva Neumayr trabalhava em uma malharia. "Sempre sonhei em ser bombeiro", diz Neumayr. "Gosto de poder fazer alguma coisa para ajudar."

Importância

Para Renato de Lima, professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná e diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid), os grupos voluntários são essenciais nas respostas aos desastres. "Várias cidades de Santa Catarina têm esse sistema. É uma das melhores maneiras de a sociedade estar preparada para os imprevistos", diz.

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Lima relata que, em Ilhota, a comunidade se sente insegura. As análises que indicaram risco de deslizamento em muitos morros aumentaram o temor. "Eles vivenciaram um processo jamais visto. Não sabem como será a vida daqui para frente", afirma. "E o trabalho dos grupos de resgate e bombeiros voluntários foi fundamental para a sobrevivência dessas pessoas."