O Ministério da Justiça enviou ontem à Santa Catarina tropas da Força Nacional de Segurança para ajudar no combate à onda de violência urbana iniciada em 30 de janeiro. São 350 homens que vão atuar na tentativa de conter os ataques que já atingiram 31 cidades catarinenses. O reforço chegou no dia em que o estado registrou o 101º atentado. Ele ocorreu em Guaramirim (a 171 km de Florianópolis), onde dois homens jogaram gasolina contra um ônibus escolar estacionado em um posto de combustíveis. Ninguém foi preso.
O envio dos militares foi autorizado pelo Ministério da Justiça depois de uma reunião entre o governador e o ministro José Eduardo Cardozo na quarta-feira. As tropas chegaram a Florianópolis em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) no início da tarde, por volta das 14h20. Às 16 h, 25 homens se deslocaram em direção à Academia de Polícia. Cerca de 150 soldados já estariam na cidade.
Informalmente entre os policiais, a mobilização foi batizada de Operação Salve SC, em referência ao termo utilizado pela facção para dar o "sinal verde" à onda e ataques.
O governo do estado não informou como usará o reforço, nem confirmou o efetivo enviado a Santa Catarina. "Não podemos dar detalhes sob risco de frustrar nossas expectativas", disse o coronel Nazareno Marcineiro, comandante-geral da Polícia Militar no estado.
A reportagem apurou que a Força Nacional será usada na transferência de pelo menos 20 criminosos de penitenciárias catarinenses a unidades federais de segurança máxima. As tropas também ficarão dentro das penitenciárias de São Pedro de Alcântara, Chapecó, Criciúma e Itajaí, onde está a maioria dos presos que devem ser transferidos, por 10 dias.
Ônibus
Motoristas e cobradores de ônibus da Grande Florianópolis chegaram às 17h30 a um entendimento com o governo do estado e a prefeitura da capital e anunciaram que vão trabalhar até as 23h, como fazem desde o início dos atentados.
Na quinta-feira, a categoria anunciou que trabalharia só até as 19h por medo dos ataques dos 101 casos registrados no estado desde 30 de janeiro, 38 foram contra ônibus, a maioria deles vazios.
O recuo de motoristas e cobradores ocorreu depois que a prefeitura anunciou o aluguel de mais 20 carros na semana passada já haviam sido 15 e o empréstimo de 10 carros da Guarda Municipal para as escoltas.
O governo do estado disponibilizou outros 40 carros para as escoltas feitas pela Polícia Militar, que diz ter efetivo, mas não ter carros suficientes para o trabalho. Agora são 85 carros particulares nas escoltas.
Pelo menos 71 suspeitos foram presos até agora
Até ontem, pelo menos 71 pessoas haviam sido presas e 22 adolescentes apreendidos por suspeita de envolvimento nos atentados em Santa Catarina.
Nesta sexta-feira, em Laguna (a 183 km de Florianópolis), o alvo dos criminosos foi um caminhão-guincho estacionado do bairro Mar Grosso. À 0h11, dois homens de moto jogaram uma garrafa com gasolina contra o veículo, que não chegou a queimar.
Em Içara (a 116 quilômetros de Florianópolis), às 4h, bandidos queimaram um carro depois de render um casal. O dono do veículo deixava a mulher no trabalho no momento em que dois homens os renderam e usaram gasolina para incendiar o carro. Ninguém foi preso.
O delegado-geral da Polícia Civil em Santa Catarina, Aldo Pinheiro DÁvila, disse que, dos cerca de cem atentados registrados até o momento, 70 têm relação com facções criminosas e 30 são "só atos de vandalismo". "Nós temos uma pulverização dos ataques pelo estado, e isso dificulta o trabalho da polícia", disse.
Família espera ônibus por duas horas
Ao chegar ao principal terminal de ônibus de Florianópolis ainda na madrugada de sexta-feira, uma família precisou de paciência. Pais, filha e neta esperaram por mais de duas horas pelo transporte público. Os ônibus só começaram a circular depois das 7 horas, medida adotada pelos trabalhadores em razão da onda de atentados em Santa Catarina.
A família do pedreiro Edimilson Malheiros, 48 anos, chegou ao Terminal Rita Maria por volta das 4h50min, vindos de Sapiranga, no Rio Grande do Sul. Ednilson, a esposa, Elenita Pereira, 48 anos, a filha, Andreia Malheiros, 23 anos, e a neta Maria Fernanda, de apenas 10 meses, esperavam por ônibus para seguir até Canasvieiras, onde moram. "Apesar de tudo considero Florianópolis uma cidade segura", disse Elenita.
Por volta das 7h15, o primeiro ônibus estacionou no terminal e foi recebido com aplausos pela família. Soldados da Polícia Militar, que mantém base no terminal, aguardavam para seguir em escoltas atrás dos primeiros ônibus.
A PM utiliza os carros alugados pela prefeitura todos sem indicação da Polícia para fazer rondas e para as escoltas ao transporte público.