Pelo menos 14 das 91 escolas municipais de Londrina apresentam problemas de desperdício de merenda oferecida por uma empresa terceirizada. O contrato com a SP Alimentos, em vigor desde o fim de 2006, inclui o fornecimento de 40 mil refeições diárias para a rede escolar municipal, a um custo de R$ 1,36 por unidade (lanche e almoço).
Pelo fato de a Prefeitura remunerar a empresa por refeição consumida, alunos estão são impelidos a desperdiçar alimentos porque a terceirizada orienta os funcionários a não fornecer apenas a sobremesa - geralmente uma fruta - ou o suco, fazendo com que a criança seja obrigada a ficar com todo o prato.
A cada 15 dias, a empresa contabiliza o número de alimentações servidas sobre o qual é remunerada pela Prefeitura. Assim, para comer uma fruta a criança leva tudo e o destino certamente será o lixo. "Não podemos continuar a pagar R$ 1,36 por um suco ou uma fruta se este é o preço pela refeição inteira", afirma Jair Ramos, diretor administrativo da Secretaria de Educação. "O problema é que também não podemos simplesmente diminuir o valor e as quantidades do contrato porque há questões jurídicas envolvidas", diz.
"Se a criança comeu em casa e quer apenas a sobremesa, fica complicado para a empresa assumir o prejuízo", diz Ramos. Segundo o funcionário, o programa de alimentação escolar brasileiro é semelhante ao japonês, americano ou europeu. "Prevê a quantidade de calorias necessárias para a criança durante o tempo em que está na escola. Mas, em algumas escolas, as crianças não comem o principal, ela joga no lixo e é claro que a comunidade fica revoltada com algo assim. Também ficamos tristes, mas não é fácil de resolver".
O diretor da Secretaria de Educação alega que o problema não era previsível porque o contrato de terceirização envolve diferentes realidades também são fornecidas refeições para a maternidade municipal e outros órgãos - que só agora vieram à tona. "Agora pensamos 24 horas nisso".
"Já houve muito mais desperdício", afirma Jacks Dias, secretário de Gestão Pública, que classifica o problema hoje como "irrisório": "Temos muito mais elogios pela alimentação do que críticas". De acordo com Dias, o contrato só será alterado em último caso. A partir da segunda metade de maio, a terceirizada vai promover teatros e "atividades lúdicas" para "convencer" as crianças a comerem toda a refeição.
Em algumas escolas, o horário das refeições será mudado como forma de garantir a fome da criançada. Dias afirma que não pode abrir mão de que cada criança consuma 350 calorias/dia padrão estabelecido pelo Ministério da Educação e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). "Mesmo que a criança coma em casa, a nossa obrigação é garantir esse mínimo. A criança tem que comer".
"Dizer não é a parte mais difícil"
Os funcionários da empresa SP Alimentos alegam que são treinados para dizer não às crianças que queiram apenas a sobremesa ou o suco. Caso assim não procedam, podem ser advertidos e até demitidos. Embora isso esteja previsto no contrato, os funcionários se sentem constrangidos. "Não é fácil negar algo tão simples como uma fruta a uma criança", lamenta uma auxiliar de cozinha de uma escola.
"Também somos mães", completa outra da equipe. Ao fim do dia, anotam a quantidade de pratos servidos em um caderno números que vão garantir o pagamento pela Prefeitura. Sem poder alterar o contrato de imediato, a Prefeitura encontrou soluções improvisadas.
Em algumas escolas, as crianças têm a "Bacia da Solidariedade" onde depositam frutas que não queiram comer e possam ser consumidas pelos colegas que preferem só a sobremesa. "Vamos testar a cesta em 14 escolas", garante Jacks Dias, o secretário de Gestão Pública, para quem a orientação dos pais para que as crianças peguem a fruta e rejeitem o alimento "é um equívoco".
"Pode causar até mesmo um problema de saúde com a má alimentação". A reportagem não conseguiu contato com a empresa SP Alimentos no horário comercial.
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