Há anos, tapumes escondem o que sobrou do prédio das Ferragens Hauer, na Rua José Bonifácio com a Padre Júlio de Campos, atrás da Catedral, no Centro de Curitiba. O edifício data de 1888 e resiste bravamente ao tempo: cem anos depois de sua inauguração, um incêndio destruiu todo o seu interior. Quem nunca reparou na construção ainda neste ano poderá ver sua fachada por inteiro. É que a restauração do edifício está quase finalizada.
O prédio é mais uma das Unidades de Interesse de Preservação (UIP) da capital que está sendo restaurada de 2008 para cá, 25 UIPs receberam alvará permitindo esse tipo de intervenção. No caso do prédio das Ferragens Hauer, o restauro está por conta da dupla de arquitetos Ivilyn Weigert e Leandro Nicoletti Gilioli, da Arte Maggiore.
A preocupação deles é de não fazer um falso testemunho da história. A fachada foi refeita minuciosamente, já que foi bastante danificada pelo fogo na década de 1990. Os detalhes artísticos voltaram e agora a cor original, um tom de vermelho, já está definida.
A dupla também é responsável pela restauração da Villa Sophia, na Rua Mateus Leme, atrás do Shopping Mueller. Casa de família construída no fim do século 19, ela foi comprada pela Cúria e tornou-se casa do bispo por anos.
Créditos
As duas construções foram arrematadas em um leilão pelo mesmo homem. Há anos, quem é dono de uma UIP e decide restaurá-la ganha créditos de potencial construtivo, que normalmente são trocados pelo restauro. Esse viés econômico, no entanto, não é o que importa na opinião de Gilioli. Para o arquiteto, esses restauros estão muito relacionados com sustentabilidade. "É deixar que gerações futuras usufruam desses espaços e conheçam a história da cidade", reflete.
Apesar de muito questionado, por algum tempo esse incentivo atraiu construtoras interessadas nesses títulos e que acabavam preservando parte da história da cidade. De um tempo para cá, os casarões deixaram de despertar esse interesse.
"O potencial construtivo, além de ser um instituto contrário à organização da cidade, com a Arena virou um absurdo, não existe mais", critica o professor de Direito Socioambiental da PUCPR Carlos Marés. Na avaliação de Marés, esse instrumento interessa apenas ao especulador, porque só conserva o que tem algum valor econômico, pouco visto em prédios históricos.
Depois de restaurados, tanto o prédio da antiga Ferragens Hauer quanto a Villa Sophia serão colocados para locação.