Procedimento

Trabalho minucioso garante resgate histórico fiel

Restaurar uma imóvel não é uma simples reforma, em que se resgata um padrão físico. O restauro exige que se leve em consideração valores agregados, como aspectos históricos. E isso não quer dizer que tudo vai ficar como no original, mas sim do jeito em que aquela construção viveu seus anos mais importantes.

Para resgatar o que se passou na Villa Sophia, casarão do fim do século 19 que fica na Rua Mateus Leme, é preciso paciência. Com um bisturi em mãos, os restauradores Tatiana Zanelatto Domingues e Renato Barbizan vão descascando as paredes da casa para descobrir o que está escondido. "É a parede que diz o que vai acontecer", conta Tatiana, apontando para o alto, onde as vigas de madeira não resistiram e deixaram uma infiltração se formar. Naquele pedaço, não há o que recuperar.

No segundo andar da casa, foram descascadas seis camadas de tinta até chegar à primeira. As pinturas que surgiram serão documentadas, mas apenas as mais conservadas terão alguma parte exposta, que ganham o nome de janelas. "É com dor que abrimos e fechamos, mas você sabe que de alguma maneira aquilo está sendo preservado", analisa.

No térreo, papéis de parede dificilmente vão revelar qual foi a primeira pintura, porque retirá-los implica em chegar ao estuque. Com técnicas mais avançadas – e caras – como laser, talvez fosse possível ir mais fundo na história.

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Leandro Nicoletti Gilioli, da Arte Maggiore, um dos arquitetos responsáveis pela restauração
Leandro Nicoletti Gilioli, da Arte Maggiore, um dos arquitetos responsáveis pela restauração
Escadaria de madeira é emblemática na sala da casa Villa Sophia
Papeis de parede diferentes decoraram cada sala na Villa Sophia
Restauração deve ficar pronta ainda nesse primeiro semestre
Com um bisturi, a restauradora Tatiana Zanelatto Domingues vai descobrindo o que há abaixo de camadas de tinta
As paredes da Villa Sophia são de estuque, uma técnica construtiva antiga
Restauro do teto na Villa Sophia é mais complexo: é preciso retirar o assoalho para fazer os ajustes no gesso
Aos poucos, casarão que estava abandonado na Mateus Leme volta ao original
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Há anos, tapumes escondem o que sobrou do prédio das Ferragens Hauer, na Rua José Bonifácio com a Padre Júlio de Campos, atrás da Catedral, no Centro de Curitiba. O edifício data de 1888 e resiste bravamente ao tempo: cem anos depois de sua inauguração, um incêndio destruiu todo o seu interior. Quem nunca reparou na construção ainda neste ano poderá ver sua fachada por inteiro. É que a restauração do edifício está quase finalizada.

SLIDESHOW: Veja fotos dos casarões em restauro

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O prédio é mais uma das Unidades de Interesse de Preservação (UIP) da capital que está sendo restaurada – de 2008 para cá, 25 UIPs receberam alvará permitindo esse tipo de intervenção. No caso do prédio das Ferragens Hauer, o restauro está por conta da dupla de arquitetos Ivilyn Weigert e Leandro Nicoletti Gilioli, da Arte Maggiore.

A preocupação deles é de não fazer um falso testemunho da história. A fachada foi refeita minuciosamente, já que foi bastante danificada pelo fogo na década de 1990. Os detalhes artísticos voltaram e agora a cor original, um tom de vermelho, já está definida.

A dupla também é responsável pela restauração da Villa Sophia, na Rua Mateus Leme, atrás do Shopping Mueller. Casa de família construída no fim do século 19, ela foi comprada pela Cúria e tornou-se casa do bispo por anos.

Créditos

As duas construções foram arrematadas em um leilão pelo mesmo homem. Há anos, quem é dono de uma UIP e decide restaurá-la ganha créditos de potencial construtivo, que normalmente são trocados pelo restauro. Esse viés econômico, no entanto, não é o que importa na opinião de Gilioli. Para o arquiteto, esses restauros estão muito relacionados com sustentabilidade. "É deixar que gerações futuras usufruam desses espaços e conheçam a história da cidade", reflete.

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Apesar de muito questionado, por algum tempo esse incentivo atraiu construtoras interessadas nesses títulos e que acabavam preservando parte da história da cidade. De um tempo para cá, os casarões deixaram de despertar esse interesse.

"O potencial construtivo, além de ser um instituto contrário à organização da cidade, com a Arena virou um absurdo, não existe mais", critica o professor de Direito Socioambiental da PUCPR Carlos Marés. Na avaliação de Marés, esse instrumento interessa apenas ao especulador, porque só conserva o que tem algum valor econômico, pouco visto em prédios históricos.

Depois de restaurados, tanto o prédio da antiga Ferragens Hauer quanto a Villa Sophia serão colocados para locação.

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