Aumentar o número de cirurgias de catarata, possibilitar o acesso a consultas e discutir a criação de Comissões de Procura de Órgãos em hospitais com o objetivo de zerar a fila para transplante de córneas são alguns dos temas que estarão sendo discutidos hoje, em Brasília, durante o 3º Fórum Nacional de Saúde Ocular. O evento é uma promoção conjunta do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Ministério da Saúde. A programação inclui a apresentação do relatório "A Saúde Ocular do Brasileiro 2008" e discussões sobre desafios e metas do Programa Olhar Brasil. Sobre esses assuntos, a Gazeta do Povo conversou com o presidente do CBO, Hamilton Moreira.
Que avaliação o senhor faz da saúde ocular no Brasil? Há um problema principal a ser combatido?
Acho que o principal problema ainda é a cegueira causada pela catarata. A população está envelhecendo e devemos nos preparar para enfrentar essas doenças degenerativas.
O que está sendo desenvolvido de políticas públicas nesse sentido?
São varias ações. Junto com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o Ministério da Saúde editou portarias de atenção à saúde ocular. Talvez a mais importante seja a que vai promover um resgate no número de cirurgias de catarata. A portaria visa aumentar o número de cirurgias, que hoje é de 220 mil, para 350 mil ao longo do ano.
Os mutirões para cirurgia de catarata são suficientes?
Os mutirões são esforços agudos. A partir dessas portarias vamos aumentar as cirurgias de catarata dentro de um programa incorporado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A portaria também estabelece o uso da técnica da facoemulsificação, que permite uma recuperação mais rápida. Em 2009 esperamos chegar a 350 mil cirurgias por ano. Ainda é algo distante das 500 mil que precisaríamos fazer, diante do envelhecimento da população.
Qual o impacto social e econômico das perdas na capacidade visual?
Uma criança que perde a visão representa dez vezes o prejuízo social de um adulto. Em alguns casos temos como reverter essa situação. Os tratamentos não costumam ser tão caros e a pessoa retorna à cadeia produtiva. O investimento é pequeno. Para o SUS, uma cirurgia de catarata custa cerca de R$ 680.
As diferenças regionais dificultam a implantação de um programa nacional homogêneo?
Claro, um dos problemas é a questão do acesso. Em alguns municípios ainda há dificuldade para conseguir consulta. Existe uma portaria interministerial de abril de 2007 que estabelece o projeto Olhar Brasil, que pretende oferecer 40 milhões de consultas a mais em um período de três anos.
Podemos dizer que a oftalmologia está voltada para a prevenção?
A oftalmologia tem essa particularidade. Cerca de 70% das queixas são relacionadas ao uso de óculos. É durante as consultas desse tipo que o oftalmologista faz a prevenção das doenças graves. Existem doenças como glaucoma, que são detectadas através de um exame de fundo de olho, um exame preventivo. Com o projeto Olhar Brasil, pretendemos que o paciente faça consultas regulares.
O que ainda falta para o Brasil zerar a fila do transplante de córneas?
O Brasil tem diferenças regionais muito grandes. Estados como Bahia e Rio de Janeiro têm números abaixo da possibilidade. Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais tem índices melhores, mas também abaixo da necessidade. São Paulo zerou a fila em dois meses. A diferença são as equipes de captação. São Paulo instituiu as chamadas OPOs (organizações de procura de órgãos), que atuam lembrando as famílias sobre a doação. Trabalhamos com pacientes em parada cardíaca, que já estão no processo do funeral. Temos a cada ano cerca de 900 mil mortes, o que representa 0,5% da população. Seriam 1,8 milhão de córneas para doação. Precisamos de apenas 30 mil para equalizar a situação. Hoje fazemos 10 mil transplantes. Desses, 4,9 mil são em São Paulo. Alcançar esses números não é difícil quando se tem equipes que explicam como o processo funciona. O fórum vai servir para apoiar a criação das OPOs.