Um fóssil de 115 milhões de anos encontrado na Bacia do Araripe, no Ceará, permitiu a descrição da mais antiga ave brasileira. Os restos do pássaro, que tinha o tamanho de um bem-te-vi, representa o mais completo registro desse tipo de animal de todo o antigo supercontinente Gondwana, formado por América do Sul, África, Antártica, Índia, Austrália e Madagascar. Os resultados da pesquisa, publicada na revista inglesa Nature, foram apresentados na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O fóssil da ave Euenantiornithes possui vestígios de ossos, penas e plumas muito bem conservados. O animal tinha 6 centímetros de esqueleto e 8 centímetros de cauda, formada por duas penas. A ave é do período mesozoico, marcado pelo surgimento de dinossauros e pelas grandes modificações no planeta, com a fragmentação da placa única que recobria a Terra em dois supercontinentes, Laurásia e Gondwana.
“Essa descoberta mudará o entendimento desse grupo de fósseis e de sua distribuição no mundo. É uma verdadeira joia da paleontologia brasileira”, afirmou Ismar de Souza Carvalho, professor do Departamento de Geologia da UFRJ e primeiro autor da pesquisa.
Além do esqueleto muito bem preservado, com ossos cranianos e maxila com sinais da existência de dentes, as características do fóssil mostram que o animal possuía olhos grandes e indicam que se tratava de indivíduo jovem. Os pesquisadores acreditam que se tratava de um pássaro com plumagem colorida - minúsculas marcas arredondadas na cauda são vestígios da pigmentação.
O fóssil da Euenantiornithes havia sido descoberto em 2011 na região do Araripe, entre os municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri, no sul cearense. “A área da Bacia do Araripe é onde têm sido descobertos os melhores fósseis do mundo”, disse o pesquisador, que atua no local há cerca de 30 anos. Carvalho explica que o ambiente lagunar, com clima quente e seco, além da precipitação química do carbonato de cálcio, são características da região que favoreciam a preservação de fósseis da era mesozoica.
Até o momento, a maioria dos registros de aves plumadas do período se concentrava na China. “É um exemplar de preservação excepcional. A plumagem desse fóssil é uma das coisas mais impressionantes que já vi em paleontologia no Brasil”, afirmou Carvalho.
Geralmente, os fósseis das aves da era mesozoica do paleocontinente Gondwana não são tão bem preservados e não possuem detalhes completos da anatomia dos animais, explicou o pesquisador.
“Os fósseis normalmente são encontrados muito desarticulados. É isso que torna esse trabalho tão raro e tão importante”, disse Carvalho. O grupo das aves Euenantiornithes é extinto, sem representantes nas espécies existentes hoje.
O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Geociências da UFRJ, do Museo Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia, da Fundación de Historia Natural Félix Azara, do Geopark Araripe e do Departamento Nacional da Produção Mineral.
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