As obras de construção de um condomínio de oito torres na região central de Uberaba, no Triângulo Mineiro, revelaram bem mais do que terra e pedras. Fósseis de um dinossauro de grande porte, com idade estimada em 80 milhões de anos e que pode ser de uma espécie desconhecida, serão desenterrados nos próximos dias.
Costelas, vértebras, tíbia e ossos da cintura do animal já foram identificados. Segundo os pesquisadores, o estado de preservação indica que o material craniano ainda pode estar enterrado na rocha. As escavações continuam até a próxima semana.
Para o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, ligado à UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), a estrutura pode pertencer a uma nova espécie de titanossauro, um dinossauro herbívoro que habitou a região.
“Pela diversidade de fósseis que encontramos e o grau de preservação, provavelmente vamos ter a oportunidade de apresentar uma nova espécie. Isso representaria mais um dado para o avanço das pesquisas paleontológicas em âmbito internacional”, diz Ribeiro.
Após a retirada do fóssil, o material será encaminhado para análise no Centro de Pesquisas Paleontológicas.
Segundo Ribeiro, os estudos morfológicos e anatômicos devem ser concluídos dentro de um ano e irão confirmar se o achado se refere a uma espécie ainda não identificada no Brasil.
Nos últimos dez anos, três espécies de titanossauro foram descobertas no Triângulo Mineiro: o Trigonosaurus pricei, o Baurutitan britoi e o Uberabatitan riberoi.
No terreno ao lado da obra do condomínio, foram encontrados há cerca de dois anos os primeiros fósseis nessa região durante escavações para a construção de um shopping. Por falta de acesso à obra, contudo, os pesquisadores não conseguiram identificar a espécie.
Vigilância
Em dezembro passado, uma funcionária da prefeitura encontrou indícios da existência de fósseis na área do condomínio. A partir de então, a obra vem sendo monitorada pelo Centro de Pesquisas Paleontológicas.
Em março, foi encontrada parte de um fêmur de titanossauro em outra área do mesmo terreno, mas os pesquisadores não informaram se fazia parte do mesmo animal.
O coordenador regional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente das Bacias dos Rios Paranaíba e Baixo do rio Grande, Carlos Alberto Valera, recomendou à prefeitura que fiscalizasse e monitorasse construções que envolvam escavações ou movimentação de terra passíveis de destruir eventuais novos fósseis.
Também foi solicitada a revisão imediata das licenças, alvarás e autorizações já emitidas para todas as obras.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Ricardo Lima, diz que todos os procedimentos administrativos que tramitam na pasta seguem a orientação antes da emissão da licença ambiental e que a medida será estendida a outros setores da prefeitura responsáveis pela liberação de novos empreendimentos.
Segundo o secretário, em 2006 foi feito um zoneamento paleontológico para mapear potenciais depósitos de fósseis na cidade, que será atualizado em breve para evitar danos durante intervenções na área urbana.
As obras do condomínio de torres residenciais não foram suspensas porque estão em outro quadrante do terreno e não interferem nos fósseis.
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