Pesquisa confirma realidade alarmante
Uma pesquisa realizada por professores e alunos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), da União Dinâmica de Faculdades Cataratas e da Uniamérica, com apoio da Vara da Infância e Juventude de Foz do Iguaçu, Itaipu Binacional, Fundação Nosso Lar e Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, resultou na edição do livro "Abandono, Exploração e Morte".
Fundamentada em três temas, a pesquisa aponta que de 2001 a 2006 o índice de mortes entre jovens em Foz do Iguaçu cresceu 74%. O levantamento revela ainda que enquanto os homicídios aumentam em Foz do Iguaçu, representando 85% na faixa etária de 12 a 18 anos, outras causas de morte violenta, como nas ocorrências de trânsito ou afogamentos, diminuem.
Jovens são algozes, mas também vítimas
O universo dos assassinatos e o efeito dominó provocado pelos crimes revelam uma assustadora realidade, onde os jovens aparecem tanto como vítimas como autores dos homicídios. A diarista Maria do Carmo, 40 anos, é uma das mães que chora pela morte do filho em Foz do Iguaçu. Jhonatan Vieira de Lima completou 18 anos no dia 21 de janeiro. No dia 29 de janeiro, ele foi morto com cinco disparos de revólver calibre 38 na Vila C, bairro que abriga ex-barrageiros da Itaipu Binacional.
O autor, um adolescente de 17, acabou preso e disse que vinha recebendo ameaças de Jhonatan. "Tenho várias amigas que perderam filhos jovens, de 14 e 18 anos. Não gostaria que mais nenhuma mãe passasse pelo que eu estou passando", diz Maria.
Jhonatan, também conhecido como Garrincha, estava com um amigo andando pela rua, quando acabou executado. Como boa parte dos jovens mortos na cidade, ele parou de estudar. Havia abandonado a escola na 7.ª série para morar com o pai em outra cidade. Quando voltou a Foz, não tinha emprego fixo. Por um tempo, a ocupação dele foi carregar bagageiro de ônibus em hotéis.
Denise Paro
Foz do Iguaçu Dos 53 homicídios registrados pelo Instituto Médico-Legal (IML) de Foz do Iguaçu desde o início do ano até ontem, 27 tiveram como alvo jovens com idade entre 15 e 24 anos. A grande incidência de mortes nesta faixa etária coloca a cidade no topo da lista dos municípios brasileiros com maior índice de assassinatos juvenis: 223,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, entre 2002 e 2004, seguida de Serra (ES) e Recife (PE).
A situação é apontada pelo "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros", baseado no levantamento concluído no fim do ano passado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), divulgado ontem em Brasília. O estudo, feito com o apoio do Ministério da Saúde, é baseado nos dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade).
Além de Foz do Iguaçu, entre as 100 primeiras, o Paraná tem outras cinco cidades no ranking de homicídios juvenis: Piraquara (26.º), Santa Lúcia (32.º), Guaíra (37.º), Nova Santa Bárbara (76.º) e Campina Grande do Sul (92.º). Na lista de homicídios na população total, a cidade fronteiriça ocupa o 11.º lugar. Outras quatro cidades paranaenses também têm destaque nesta estatística: Tunas do Paraná (14.º), Rio Bonito do Iguaçu (21.º), Campina Grande do Sul (83.º) e Piraquara (88.º).
Interiorização
Na comparação dos índices dos dez anos seguintes a 1994, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa, conclui que a violência está migrando para o interior do Brasil. Os homicídios registrados entre 2002 e 2004 passaram a se concentrar em 556 dos 5.560 municípios brasileiros 10% do total. O estudo aponta que mudanças nos aspectos social e econômico provocaram a estagnação do crescimento da violência nas cidades mais populosas sobretudo nas de grande peso demográfico, como São Paulo e impulsionou a continuidade nos municípios do interior. "A interiorização da violência vem se revelando como mais um desafio para toda a sociedade brasileira", comenta Waiselfisz.
A causa desta interiorização "é a emergência de novos pólos de crescimento no interior dos estados", principalmente nas regiões metropolitanas ou onde o inverso acontece, como é o caso de Foz do Iguaçu, atingida por uma avalanche de mão-de-obra não especializada e conseqüentemente ociosa.
Recrutamento
Dados da 9.ª Regional de Saúde mostram a gangorra dos homicídios na fronteira, acelerada nos últimos seis anos. Enquanto em 2001, o número de assassinatos chegou a alarmantes 246 casos, em 2004 foram 300, com uma trégua no ano seguinte, quando foram registradas 244 mortes, atingindo o ápice em 2006, com 304 ocorrências.
O envolvimento cada vez mais cedo com o ilícito é apontado como a principal causa dos recordes. O contrabando de mercadorias que entram no país ilegalmente pela fronteira com o Paraguai e o tráfico de drogas são os maiores responsáveis pela onda crescente de violência.
"A facilidade de acesso entre os dois países e o contato com o mundo do crime, além da legislação mais branda em relação aos delitos praticados por adolescentes acabam levando estes jovens à marginalidade", avaliou o secretário municipal de Cooperação para Assuntos de Segurança Pública e comandante da Guarda Municipal, coronel Renato Peres. "Por isso a necessidade do envolvimento de todas as forças policiais que atuam na fronteira", reforçou.
É consenso entre as autoridades de segurança que quase a totalidade dos crimes tem origem nesta realidade. A avaliação é sustentada ainda pela incidência de vítimas com passagem pela polícia, cerca de 90%, além da baixa escolaridade e a falta de ocupação formal. "Famílias inteiras acabam envolvidas no crime", observa o investigador da Delegacia de Homicídios de Foz do Iguaçu, Marcelo Rocha.
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