Foz do Iguaçu A prefeitura de Foz do Iguaçu vai cobrar explicações do governo norte-americano a respeito de acusações que considera infundadadas sobre a existência de grupos terroristas na tríplice fronteira de Brasil, Paraguai e Argentina. A medida será tomada como resposta à disposição anunciada pelos Estados Unidos de formar uma força-tarefa antiterror para atuar na região.
A questão veio à tona depois que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, órgão equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, aprovou uma moção para que o presidente norte-americano George W. Bush solicitasse a formação da força-tarefa para atuar contra o terrorismo no Ocidente, especialmente na tríplice fronteira. No documento, os políticos ainda pedem que o presidente exija que os países da Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheçam o Hezbollah e o Hamas como organizações terroristas.
O prefeito de Foz, Paulo Mac Donald Ghisi, diz que solicitará, por meio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que o governo norte-americano faça uma investigação na cidade para confirmar a existência de terroristas, antes que se inicie a força-tarefa. "Vamos pedir isso aos próprios norte-americanos. Não aceitamos essa acusação. Temos prejuízo porque estamos em uma cidade que recebe o mundo", diz.
Ghisi ainda afirmou que escreverá uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para informá-lo sobre o problema e entrará em contato com os governantes de Ciudad del Este e Puerto Iguazú para tomar uma iniciativa conjunta. Para o prefeito, os Estados Unidos deveriam provar que os terroristas estão atuando na região antes de tomar qualquer posição. Ele também está disposto a convidar a deputada republicana Ileana Ros-Lehtinen, da Flórida, autora da proposta, para conhecer a região.
Moção
Segundo o teor da moção proposta pela deputada, o terrorista Abu Musab al Zarqawi, apontado como principal líder da Al Qaeda no Iraque e morto por tropas norte-americanas em 7 de junho, teria instruído membros da organização a ir ao Brasil para chegar até o México e entrar nos Estados Unidos para organizar ataques terroristas.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou, por meio da assessoria de imprensa, que a posição do governo brasileiro é a de que não há indícios de atividades terroristas na região. Para o Itamaraty, o governo norte-americano estará desrespeitando a soberania brasileira caso a medida (a criação de uma força-tarefa) seja tomada. A posição do Itamaraty está fundamentada em um documento assinado pelos governos da Argentina, Brasil, Estados Unidos e Paraguai durante a IV Reunião Plenária do Grupo 3+1 sobre a Segurança da Tríplice Fronteira, realizada em dezembro de 2005, em Brasília.
Conforme o documento, ficou decidido que se algum país tivesse informações sobre atividades terroristas na região deveria avisar aos outros. No entanto, até o momento não houve comunicado oficial sobre o tema ao governo brasileiro. O delegado-chefe substituto da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, Renato Lima, diz que existe um trabalho na fronteira voltado ao combate ao terrorismo, crime de alçada federal que pode ocorrer como qualquer outro.
Colônia
Essa não é a primeira acusação relativa à existência de terroristas que recai sobre a tríplice fronteira. O tema, que se tornou recorrente principalmente após dois atentados contra judeus registrados na Argentina, em 1992 e 1994, e ao 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, afeta a colônia árabe de Foz do Iguaçu.
A cidade tem a segunda maior colônia árabe do Brasil (depois de São Paulo), com cerca de 12 mil imigrantes e descendentes. A maioria dos árabes mora em Foz do Iguaçu e trabalha no comércio de importados do Paraguai.
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