A operação de resgate dos destroços do voo AF-447 pode não resultar na recuperação dos corpos de passageiros e tripulantes que morreram no acidente. A informação foi confirmada ontem pela Secretaria dos Transportes da França. A dúvida reside no temor de que os restos mortais não resistam à tentativa de içamento, que será feita por robôs-submarinos e cabos.
Na última segunda-feira, a secretaria havia informado que a ênfase dos trabalhos de resgate no Oceano Atlântico seria dada às peças do avião. "A prioridade será dada à investigação técnica e, se forem encontradas, à repescagem dos gravadores de voo", informou o órgão, em nota oficial.
Segundo o órgão francês, há dúvidas sobre a capacidade das máquinas de efetuar com sucesso a operação de resgate dos restos mortais. "Vamos tentar recuperar os corpos, mas ainda não sabemos se será possível fazê-lo, porque não sabemos como eles reagirão ao içamento", informou uma porta-voz da secretaria, que tentou adaptar o conteúdo do comunicado da segunda-feira: "Na verdade, não há prioridade".
De acordo com a secretaria, a tripulação do navio Ile-de-Sein fará a operação técnica, a respeito das causas do acidente, sob o comando do Escritório de Investigação e Análise (BEA), responsável por apurar as causas do acidente. Paralelamente, os peritos tentarão recuperar os corpos, uma questão atrelada à investigação jurídica, comandada pela Justiça da França.
O trabalho de trazer à superfície os destroços do Airbus A-330-200 que realizava a rota Rio-Paris entre 31 de maio e 1.º de junho de 2009 será realizada pela tripulação do Ile-de-Sein, barco de propriedade das companhias Alcatel-Lucent e Louis Dreyfus Armateurs, com a ajuda de um robô-submarino ROV (Remotely Operated Vehicle), este pertencente a uma companhia americana, a Phoenix International. A operação terá início com a partida do navio da ilha de Cabo Verde no próximo dia 21. Sua chegada ao local do acidente está prevista para 26 de abril.
Gravadores
Além das caixas-pretas, os experts do BEA vão se concentrar na busca dos calculadores e dos gravadores de manutenção, entre outras peças que podem explicar o acidente. A mesma embarcação foi usada em 2004, recuperando no mar as caixas-pretas do voo Flash Airlines FSH 604, em Charm el-Cheikh, no Egito. "O Ile-de-Sein é ideal para este tipo de missão de busca e recuperação de destroços", afirmou o grupo, em nota oficial. "Alcatel-Lucent e Louis Dreyfus Armateurs desenvolveram uma larga experiência na recuperação de destroços."
Estima-se que o tempo de trabalho do Ile-de-Sein no Atlântico possa se estender por dois meses, em uma operação com custo total próximo de 5 milhões de euros, desta vez financiada pelo governo francês, sem participação da Air France e da Airbus.