Ponta Grossa – Uma em cada duas famílias visitadas pela equipe de fiscalização do programa Bolsa-Família, em Ponta Grossa, não deveria estar recebendo a parcela mensal, que varia de R$ 15 a R$ 95. Só tem direito ao benefício a família cuja renda de cada integrante não seja superior a R$ 120. As vistorias estão sendo realizadas nas áreas rurais com o objetivo de descobrir se todos os que recebem o benefício realmente precisam dele. Atualmente, 16,5 mil famílias participam do programa em Ponta Grossa.

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Só no momento da visita as condições de pobreza são comprovadas. Ou não. Foi o que aconteceu na quinta-feira no distrito rural de Guaragi. A equipe bateu palmas em frente a uma casa enorme, toda em alvenaria, com carro na garagem, gado no pasto e terras a perder de vista. Foi atendida por um fazendeiro bem-vestido. Ele recebia R$ 45 por mês de Bolsa-Família, que deveria ser destinado apenas para pessoas de poucas posses. "Nesse caso se configura fraude. Encaminhamos o caso para a secretaria responsável no governo federal e o beneficiado vai ter de devolver o dinheiro corrigido", conta a assistente social Salete do Rocio Miranda. Se o caso for considerado muito grave, pode ser aberto um inquérito policial para comprovar crimes, como falsidade ideológica.

Mas situações como a do fazendeiro são exceção. De acordo com o auxiliar administrativo Cláudio Roberto Pinheiro, que ajuda no recadastramento, a maioria das irregularidades está ligada a uma pequena melhora nas condições de vida. "São pessoas que estavam desempregadas e acharam uma ocupação, por exemplo", diz. Aí não é considerada má-fé e o benefício é apenas bloqueado. Se a renda permanecer maior que a estipulada pelo programa, depois de três meses o cadastro é cancelado.

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Quem frauda o sistema está tirando dinheiro de pessoas como Silmara Aparecida Andrade, já que o número de pedidos é muito maior que a quantidade disponível. Moradora do distrito de Guaragi, ela foi três vezes no Centro de Ação Social para tentar fazer o cadastro e não conseguiu. "Só ficavam me enrolando", diz a dona de casa. E como é muito longe – são mais de 20 quilômetros e pelo menos R$ 15 com a condução – ela desistiu. O marido faz empreitada, cortando lenha. Não tira mais do que R$ 20 no dia em que consegue trabalho. Na época da colheita da batatinha, Silmara complementa o orçamento e alimenta os três filhos. Na área de 5 mil metros quadrados a que tem direito dentro da vila rural em que mora não há nada plantado. "Se for viver disso aqui a gente morre de fome", conta ela, dizendo que só planta uma vez por ano.

Desde 31 de março, a equipe de fiscalização tem um trabalho a mais. O governo federal exige que os beneficiados tenham Cadastro de Pessoa Física (CPF) e Título de Eleitor. Aqueles que não providenciaram os documentos terão o cadastro temporariamente bloqueado.

Mas as visitas nem sempre trazem más notícias. A dona de casa Janete do Rio Dias ganhou um presente de aniversário no dia em que completou 28 anos. Na quinta-feira ela recebeu a visita da equipe de fiscalização do Bolsa-Família e soube que o benefício, pedido no início do ano, estava aprovado. Não fosse a visita-surpresa, ela provavelmente não saberia que tinha sido selecionada.