O frio que faz a maioria dos curitibanos se esconder em casa escancara o lado mais pobre da cidade. É no inverno que os moradores de rua ficam mais expostos ao mau tempo e, por outro lado, à preocupação do restante da população. Ontem, um homem de aproximadamente 50 anos foi encontrado morto num terreno baldio no Portão e é, possivelmente, a primeira vítima de hipotermia deste ano na capital. Nos primeiros 30 dias da estação, de 21 de junho a 20 de julho, o número de solicitações pelo programa Resgate Social (serviço da prefeitura para atendimento a pessoas em situação de risco) cresceu 22% em relação aos 30 dias anteriores de 1.355 solicitações para 1.731.
Aumentou também o trabalho no albergue público da Fundação de Ação Social (FAS), no Centro. "Choveu, esfriou demais, a casa fica cheia", diz a coordenadora do Resgate Social, Eliana Olesky. O abrigo tem 120 leitos e começou a semana cheio. No verão, a lotação raramente passa dos 40%. "Normalmente, eles só vêm quando a situação está muito difícil lá fora, ou por problema de saúde", explica.
É o caso de Jurandir Haus, 74 anos, que está há um mês no albergue, atraído pelo atendimento médico. Ele trabalha como guardador de carros na Rua Cruz Machado e sofreu uma queimadura grave na perna. "Geralmente, eu durmo na cadeira que uso para vigiar os carros. Quando sobra um dinheirinho fico num hotel, mas é raro", diz. O idoso não tem casa e brigou com os parentes mais próximos. "Durmo a céu aberto mesmo e nem me importo com o frio, me cubro com uns três cobertores e fico numa boa. É melhor que aturar os parentes."
Haus deixou a cadeira e os cobertores com uma amiga, antes de ir para o abrigo. Ao contrário dele, há outros moradores de rua que preferem esconder os pertences em bueiros ou em árvores. A cautela, porém, não significa grande segurança num ambiente marcado por brigas de disputa por espaço. "Tem de ficar esperto. Eu dei uma cochilada de tarde e um vagabundo levou os meus sapatos", conta Francisco Corrêa Lopes, 40 anos. Na noite de anteontem, com uma temperatura de 7°C, ele calçava apenas uma meia fina, toda furada, enquanto esperava na fila da FAS para poder entrar no albergue, comer e arrumar alguma coisa para cobrir os pés.
Horas depois, madrugada adentro, os termômetros da cidade baixaram para 4°C, o que possivelmente causou a morte do homem no Portão. O corpo dele foi encaminhado na manhã de ontem ao Instituto Médico Legal, que deve divulgar amanhã o laudo que indicará se ele foi vítima de hipotermia. Há indícios de que ele era morador de rua. No último dia 19, Maria Rosalina da Luz Rocha, 71 anos, morreu de uma parada cardíaca em decorrência do frio, em Palmas, na Região Sul do estado. Ela foi a primeira vítima de hipotermia deste ano no Paraná.
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