Israel instalou uma embaixada no Cairo há apenas 30 anos. Desde então, o debate sobre como lidar com Israel ficou ainda mais complicado, com mais sutilezas, à medida que o governo e intelectuais tentam navegar entre o desejo de preservar uma paz fria enquanto também se dobra à economia pragmática, realidades políticas e sociais, dizem analistas. O Egito não tem apetite de normalizar as relações com Israel. No entanto, nunca houve uma definição firme sobre onde a linha deveria ser desenhada, e é aí onde muitas vezes recai o debate. Re­­pórteres egípcios deveriam ser impedidos de entrevistar autoridades israelenses? Artistas podem mostrar suas obras numa exposição que também exige trabalhos israelenses?

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"Quanto às relações com Israel, os egípcios, em geral, e os árabes especificamente, caem no profundo abismo da confusão e da dúvida, e balanceiam ao redor das fronteiras desta relação, onde ela começa e onde termina", escreveu Salama Ahmed Salama no jornal independente Shorouk.

O problema surgiu quando Anwar Sadat decidiu interromper a paz com Israel sem resolver todas as outras questões árabes. Intelectuais egípcios se sentiram obrigados a se expressar em apoio aos palestinos, então pediram o boicote à normalização. Mas, com o passar dos anos, o cenário ficou mais obscuro à medida que o Egito realizou acordos econômicos com Israel, vendeu gás natural ao país, recebeu autoridades israelenses e enviou autoridades egípcias para Israel. A situação também se complicou pela Al-Jazeera, o famoso canal de notícias via satélite que regularmente cobre eventos em Israel e territórios ocupados.

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Censura

Recentemente, um caso cristalizou o debate público. Hala Mus­tafa, editora de um dos principais jornais políticos do Egito, o Democracy, foi formalmente censurada em fevereiro por ter se encontrado com o embaixador israelense em seu e scritório. Foi a primeira vez que o sindicato dos jornalistas puniu um membro por desafiar uma proibição à normalização desde que o grupo foi fundado, em 1941, segundo o jornal independente Al Masry Al Youm.

Até alguns de seus críticos, que discordam veementemente da política de Mustafa, disseram ter ficado surpresos com a natureza seletiva da condenação. Acusar Mustafa diz tanto sobre a forma como o Estado e instituições alinhadas com ele aplicam a lei e as regras, disseram os críticos, quanto sobre a hostilidade generalizada em relação a Israel. "A responsabilidade aqui é bastante seletiva, porque a lei não prevalece sobre a sociedade", disse Magdy el-Gallad, editor-chefe do Al Masry Al Youm. "A lei está ali, mas seu cumprimento está sujeito a critérios pessoais e estabelecimentos políticos. Foi isso que vimos no caso de Hala Mustafa", analisa.