Após reportagem da Gazeta do Povo publicada nesta segunda-feira (2) mostrar indícios de que os sócios das empresas de ônibus de Curitiba estão utilizando empresas do mesmo grupo familiar para drenar os lucros do setor, o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, afirmou que essa suspeita partiu de informações coletadas pela própria Urbs.
“Pela forma como foi feito o contrato [celebrado com as empresas do transporte em 2010], e essa reportagem [da Gazeta do Povo] mostra isso também, esses temas vão gerar discussão. Mas parte deles já está sob questionamento”, afirmou o prefeito em entrevista concedida durante a entrega de dois carros elétricos que serão utilizados em testes na frota de taxi.
Fruet se referia à Comissão da Tarifa formada por ele próprio logo no início do seu mandato para analisar itens do contrato e itens da planilha tarifária que define o valor cobrado do usuário e o repassado às empresas do setor. De concreto, essa comissão conseguiu em 2013 eliminar itens da tarifa técnica que somavam R$ 0,13 – quantia que não impediu dois seguidos reajustes impostos ao passageiro.
Um dos membros dessa comissão, Vicente Pacheco, professor de Contabilidade na UFPR, afirmou que a presença de empresas menores da família Gulin nos balanços das viações pode ‘atrapalhar’ o setor. “Você começa a ter um lucro liquido que não reflete a realidade daquela empresa”. Ele criticou o aspecto político da comissão municipal. “Aquela comissão não desenvolveu quase nada.”
Outras entidades também fizeram relatórios sobre a licitação iniciada na gestão Beto Richa e concluída na de Luciano Ducci: Tribunal de Contas do Estado, Câmara dos Vereadores, OAB -PR e Plenária Popular do Transporte. Todos os documentos foram remetidos ao Ministério Público do Estado (MP-PR) .
O MP-PR apura, desde 2013, indícios de irregularidades nos balancetes das viações. Segundo o órgão, devido ao volume de documentos, a equipe de auditores foi reforçada. Mas, até o momento, nenhum do ponto sob investigação foi concluído.
Nesta segunda-feira (2), Gazeta Povo mostrou que os balanços das empresas de ônibus de dezembro de 2010 a junho de 2013 tiveram registros de movimentação de mais R$ 55 milhões entre as viações e outras empresas da família Gulin. São empréstimos, aprisionamentos de recursos e depósitos judiciais que, segundo especialistas, só ocorrem porque o edital não obrigou os empresários a construírem as chamadas sociedades de propósito específico.
O sindicato que representa as empresas de ônibus - Setransp - nega as acusações. Em nota, a entidade afirma que as conclusões apontadas pelas comissões são “precipitadas e decorrem de interpretação errônea dos balanços das empresas”. Segundo as empresas, a concessão do transporte gera prejuízos ao setor e as demais atividades econômicas exercidas por elas são fundamentais para prover recursos financeiros aplicáveis à manutenção do transporte. As empresas concessionárias apresentam à Urbs relatórios específicos, exclusivamente para as contas do transporte de Curitiba. O sindicato também informa que as demonstrações financeiras seguem estritamente as normas da Receita Federal e demais exigências legais.