Depois do incêndio que matou pelo menos 233 pessoas em uma boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), anunciou que vai rever todos os procedimentos envolvendo o funcionamento de casas noturnas, incluindo a concessão de alvarás. O pedetista afirmou que a medida é uma forma de prevenção para evitar tragédias como a de ontem. Segundo ele, porém, não haverá perseguição aos estabelecimentos.
O assunto será tratado em uma reunião hoje à tarde, que será coordenada pelo secretário Municipal de Urbanismo, Reginaldo Cordeiro Fruet estará em Brasília para um encontro nacional de prefeitos com a presidente Dilma Rousseff. Serão convidados para a reunião o Corpo de Bombeiros, representantes do Ministério Público Estadual (MP) e entidades que representam estabelecimentos comerciais.
Segundo Fruet, qualquer medida que for tomada será feita sem sensacionalismo e nenhum intuito de buscar culpados, até por respeito aos empresários. Além da tragédia gaúcha, ele citou como exemplo a ser evitado o incidente ocorrido no Jockey Club de Curitiba, em 2003. Na ocasião, três adolescentes morreram pisoteados e dezenas ficaram feridos por um tumulto na realização de um show. "É preciso um esforço redobrado com relação à segurança. Não adianta agir depois que uma tragédia acontecer", defendeu. "Não faremos nenhum pré-julgamento. Não há um nível de pânico, mas de alerta para todos. Vamos trabalhar em parceria e com muito diálogo com todos os envolvidos para rever os procedimentos e fortalecer a fiscalização."
Presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar), Fábio Aguayo defendeu que haja uma padronização das exigências para a concessão de alvarás em todo o estado. Para ele, a catástrofe de ontem deve servir de exemplo para que se amplie a discussão sobre procedimentos de segurança em casas noturnas. "Hoje, cada cidade faz [a concessão de alvarás] à sua maneira. Defendemos uma padronização. É preciso que se leve o setor à sério, principalmente diante dos grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo, que vamos receber", disse. "O nosso maior patrimônio é a vida do cliente."
Ele defendeu, porém, que a ampliação da fiscalização deve se estender também a outros setores, como teatros, igrejas e supermercados. "Que essa fiscalização não se torne uma caça às bruxas apenas no nosso segmento", declarou.
Ajuda ao RS
No início da tarde de ontem, o governo do Paraná cedeu ao Rio Grande do Sul um avião do Executivo e um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal para transportar vítimas do incêndio que atingiu a boate gaúcha. Médicos paranaenses também vão ajudar no socorro aos feridos. "Este é um dos dias mais tristes da história do Brasil. O Paraná se solidariza às famílias neste momento de tanta dor. É profundamente lamentável um acontecimento como este", disse o governador Beto Richa.
Redes sociais reúnem informação e auxílioAdriana Czelusniak
A internet permitiu que imagens e informações sobre a tragédia fossem espalhadas rapidamente durante a madrugada e também por todo o dia no domingo. Ainda dentro da boate ou logo depois de terem saído, algumas pessoas publicaram informações sobre o incêndio. Uma jovem postou um pedido de socorro, mas não conseguiu sair do local e foi identificada pela família como uma das vítimas na tarde de domingo.
Sobreviventes e parentes e amigos das vítimas encontraram nas redes sociais um espaço para manifestações, onde lamentavam a tragédia, pediam ajuda e ofereciam orações. Telefones da Defensoria Pública da Cidade e contatos para profissionais da saúde que gostariam de ajudar também foram divulgados. Além de repassar as notícias apuradas pelos meios de comunicação, grupos e páginas criadas na internet, no Twitter e principalmente no Facebook, reuniram e trouxeram consolo a pessoas que participaram de alguma forma da tragédia, ou se mostravam sensibilizados por ela.
Um grupo chamado "Incêndio em boate de Santa Maria - RS [LUTO ]" havia reunido até o início da noite mais de 1,1 mil membros. Entre os posts, fotos e vídeos, além de manifestações pedindo justiça e empenho nas investigações dos responsáveis pela tragédia.