A maioria dos judeus não imaginava que a perseguição a eles durante a 2.ª Guerra Mundial seria a pior entre tantas ocorridas ao longo da história (no século 15, por exemplo, os reis da Espanha expulsaram todos os judeus do país, mas sem execuções sumárias). Talvez por serem historicamente perseguidos, mas não alvos de extermínio, dizem os especialistas, grande parte dos judeus permaneceu onde estava durante o nazismo. O resultado foi a morte de 6 milhões deles. "Não se acreditava em tamanha maldade, eles pensavam que Hitler era um maluco que permaneceria pouco tempo no poder. Não se tinha a dimensão do que estava por vir", afirma a historiadora Maria Luzia Tucci Carneiro. Os poucos que imaginavam as maldades que Hitler faria (até porque leram o livro Mein Kampf escrito em 1924 por Hitler) fugiram antes de 1939, mas quem ficou depois dessa data teve de contar com a sorte.
O pai de Gert Drucker previu o pior, afinal, era dentista na Alemanha e em 1938 já tinha restrições de trabalho: só podia atender pacientes judeus. O que pôde fazer foi comprar dois terrenos em Blumenau (SC) e avisar a esposa de que, se algo acontecesse, era para uma cidadezinha no Sul do Brasil que ela e o filho pequeno deveriam seguir. Fugir dos nazistas, contudo, já não era tarefa fácil (as fronteiras começavam a se fechar). Gert, então, foi enviado a um lugar que acreditavam ser mais seguro: de Berlinchen, onde nasceu, para a casa dos avós em Berlim. Tinha 12 anos e era filho único.
VÍDEO: Depoimento de Gert Drucker
Prisão do pai
Na Noite dos Cristais (em novembro de 1938 alemães destruíram lojas e sinagogas), o pai de Gert, o senhor Benno, foi preso. Após alguns meses, foi solto e se encontrou, às escondidas, com a família em Berlim. Só que a Gestapo (polícia secreta alemã) mandou um comunicado de que iria buscá-los. Para escapar da polícia, Benno conseguiu arrumar documentos falsos. Um pouco antes de partir, Gert viu a Gestapo aparecer no prédio enquanto os pais organizavam os últimos detalhes. "Escondido, escutei tudo e depois contei a meus pais: a Gestapo procurava por eles", diz.
Última notícia
Fugir era uma questão de vida e morte. Os três foram a Bruxelas, depois para a França. Uma semana, porém, foi suficiente para os três serem pegos. Gert foi levado a um orfanato e Adele e Benno a um campo de trabalho. "Ser separado de meus pais foi o fim do mundo para mim." Durante a estadia no orfanato, Gert recebeu algumas cartas dos pais (algumas até hoje guardadas a sete chaves). Ele vivia numa casa com outras crianças na beira do mar. Tempos depois, foi transferido para o interior da França e viveu com as crianças em um castelo. "Veja, éramos considerados um nada, mas acabamos no lugar onde viveram os sangues azuis", afirma sorrindo. Em 1943, os nazistas exigiram a entrega de judeus que estavam na França. Foi nessa leva que Benno foi pego outra vez pelos nazistas. "Meu pai me escreveu uma carta em francês dizendo que, se pudesse, voltaria a nos encontrar. Foi a última notícia dele."
Reencontro com a mãe
Gert estava com 17 anos e foi resgatado do orfanato pelos tios foi viver perto de Toulouse (França). O encontro com a mãe veio logo depois do fim da guerra. Então, começaram as tratativas com o Consulado Brasileiro na França para os dois migrarem para Blumenau. "Meu pai comprou essas residências no Brasil de um alemão que, quando começou a guerra, queria voltar para a Alemanha. Veja como são as coisas." Gert viveu com a mãe em Blumenau e depois os dois decidiram morar em Curitiba.
Gert Drucker
VIDA E CIDADANIA | 3:49
O pai e a mãe de Gert foram presos e levados a um campo de trabalho. Ele foi para o orfanato. No fim da guerra, a mãe foi buscá-lo (o pai morreu). Gert conta as dificuldades do pai de trabalhar, por ser judeu, e a imposição do uso da estrela de Davi.
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