Um dia depois da fuga de 15 presas, policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) vistoriaram ontem a carceragem superlotada do 9.º Distrito Policial (DP), no bairro Santa Quitéria, em Curitiba. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), não foi encontrado nada que leve a crer na possibilidade de novas fugas.
Na hora da fuga, na madrugada de sábado para domingo, a delegacia estava com 64 presas espremidas em celas que foram construídas para receber, no máximo, 16. Das 15 fugitivas, oito haviam sido recapturadas pela equipe da delegacia ainda no domingo. Inicialmente, a secretaria afirmou que nove haviam sido presas novamente, mas isso se deveu a uma duplicidade de nomes na lista de recapturadas, segundo fontes ouvidas pela reportagem. Hoje, o distrito abriga 57 presas provisórias que respondem a processos, na grande maioria, por envolvimento com o tráfico de drogas.
Na última quinta-feira, a Vigilância Sanitária esteve no local averiguando as condições em que se encontram as presas, a pedido da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraná (OAB-PR). E, segundo a assessoria, o relatório deverá ser divulgado hoje.
A OAB-PR solicitou à Justiça um habeas corpus coletivo para 18 presas da delegacia. Segundo a ação, o Estado teria obrigação de dar condições mínimas de vida às detentas ou transferi-las para outro local. Caso nenhuma das duas hipóteses seja viável, a OAB pede que as presas sejam liberadas. O pedido será julgado pela 1.ª Vara de Inquérito Criminal.
Conforme a secretária da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, Isabel Kugler Mendes, a fuga não foi uma surpresa. "Estamos alertando para as condições sub-humanas em que as detentas vivem. É preciso reconhecer que o que estamos pedindo é um direito à sobrevivência", alerta. Durante a visita do fim do mês passado, a comissão encontrou, além da lotação acima da capacidade, um local mal ventilado, escuro, úmido e fétido. As condições estruturais inapropriadas, lembra Isabel, facilitam a disseminação de piolhos, baratas e ratos. Ela lembra, ainda, que o esgoto está constantemente entupido devido ao acúmulo de dejetos jogados na tubulação antiga.
Realidade
Um policial que trabalha no 9.º DP e que não quer se identificar conta que o lixo é retirado duas vezes por dia. Ele afirma que, se há o entupimento dos canos, é porque as próprias presas atiram na privada absorventes, canetas, roupas íntimas e outros objetos. Mesmo admitindo que há superlotação, ele diz que nos últimos dez meses as presas têm tido benefícios. Durante três dias da semana, as presas assistem a cultos ecumênicos. Além do apoio espiritual, recebem também a doação de cestas básicas e roupas. "Está todo mundo empenhado em melhorar as condições das presas", afirma.
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