A história da região londrina do East End é a história da migração: cinco séculos de comunidades de minorias vivendo conjuntamente — às vezes, tensamente — na periferia da capital britânica.
Membros da nobreza alemã vieram depois de franceses huguenotes; muçulmanos de Bangladesh se seguiram a judeus da Europa Oriental. Cada comunidade deixou suas marcas ali: as lojas de curry, as lanchonetes de bagel abertas a noite toda, e, em dias quentes, o cheiro de coentro no ar.
Hoje, após meses de uma campanha acalorada e de forte viés anti-imigração, os eleitores decidirão se o Reino Unido deve continuar na União Europeia (UE). Mas no East End e por toda Londres, muitos já se perguntam se o Brexit — isto é, a saída do país da UE — pode levar ao fim da cidade como ela é hoje: multiétnica, internacional e cosmopolita.
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Leia a matéria completaPara a escritora Rachel Liechtenstein, autora de livros sobre o East End, o voto representa uma afronta à ideia por trás da comunidade que acolheu seus avós na década de 1930, quando eles, refugiados judeus da Polônia, se conheceram num curso de inglês na Brick Lane.
“A ideia de que, de alguma forma, vamos nos desligar do resto da Europa e do resto do mundo... é apavorante para mim”, afirmou Rachel. “Nós somos uma sociedade multicultural em Londres, e essa é a alegria de estar nessa cidade.”
Para o muçulmano bengalês Ansar Ahmed Ullah, que vive no East End desde os anos 1980, o Brexit é menos uma decisão política do que uma questão de “lealdades emocionais”. Ullah estava parado em frente à mesquita de Brick Lane, um modesto edifício georgiano que já foi uma sinagoga e, antes disso, sediara três igrejas diferentes. Há quem diga que é o único templo fora de Jerusalém a ter sido usado pelas três principais religiões.
“A mesquita é emblemática dos diferentes grupos migratórios que vêm ao East End”, disse ele.
Se, hoje, grande parte do Leste de Londres está altamente gentrificada — salpicada de butiques que vendem vinhos austríacos e restaurantes com instalações de Damien Hirst — essa área foi, durante séculos, a primeira parada para os imigrantes.
Nos últimos anos, o multiculturalismo londrino foi fomentado por leis da UE determinando que o governo aceite migrantes de outros países do bloco. Há 3,3 milhões de cidadãos da União Europeia vivendo no país, um aumento de 2 milhões desde 2003. Cerca de 2,1 milhões deles têm empregos no Reino Unido.
Caso a maioria de eleitores apoie a campanha do “vá embora”, não está claro o que acontecerá com os cidadãos europeus aqui.
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