Quando o herói Luke Skywalker atravessa a galáxia em busca do mestre Yoda, sua única companhia é R2D2. Na saga Star Wars, o robô não é só um amigo, mas uma mistura de copiloto e mecânico, que conserta a nave em tempo real. Nas cidades do futuro, essa parceria homem e máquina pode se tornar realidade. Assim como a habilidade jedi de mover objetos com a mente. Para a divisão de projetos avançados dos Estados Unidos, a Darpa, a ciência atual já possui as bases para a construção de uma cidade futurística até 2045.
O R2D2 da vida real (na verdade está mais para o mordomo virtual Jarvis, do Homem de Ferro) é uma evolução radical dos atuais comandos de voz dos celulares. A interface não só responde a comandos, mas de fato conversa com o usuário. Já a telepatia deve ser fruto de um caminho natural da neurociência, enquanto a nanotecnologia deve desenvolver uma nova matéria prima. As apostas foram compiladas na série de vídeos “Em direção ao futuro”, com cientistas de três áreas chaves da Darpa.
Em 2045, o aço e concreto devem perder espaço nas paisagens urbanas para materiais mais leves e resistente (como o tecido élfico de Senhor dos Anéis). Que materiais são esses? Os cientistas ainda não sabem. Eles só conhecem o caminho para chegar até lá. E é pela nanotecnologia, explica a chefe do escritório de Ciências da Defesa da Darpa, Stefanie Tompkins.
O princípio é o mesmo utilizada na construção da Torre Eiffel, só que aplicado a nanopartículas. Erguida no século 19, a torre francesa é cheia de “furos” em sua estrutura. Isso permite que ela seja incrivelmente leve para os seus mais de 300 metros de altura (pouco menos de oito mil toneladas de ferro), ao mesmo tempo em que uma aerodinâmica inteligente permite que a construção fique de pé, mesmo pesando pouco.
A ideia é aplicar o princípio de “uma estrutura que não é assim tão pesada, e que é incrivelmente forte” comparado a um átomo. E que, por sua vez, pode compor novas moléculas e ainda que pode ser a base de novos tecidos, tijolos, paredes, aeronaves. De qualquer coisa. No Reino Unido, uma neurocientista da Universidade de Cambridge já desenvolve um tecido feito ossos e de cascas de ovo para ser utilizado na indústria da construção civil
De todas as apostas, uma mudança no relacionamento entre humanos e tecnologia é possivelmente a mais próxima. Os carros autônomos já existem e estão cada vez mais próximos do mercado, embora ainda esbarrem na falta de regulamentação. Ao mesmo tempo, a habilidade das máquinas de reconhecerem voz e conversarem ainda está na sua infância tecnológica.
“Estamos vendo apenas a crosta da habilidade de conversar com as máquinas”, acredita Pam Melroy, antiga astronauta e atualmente no escritório de Tecnologias Táticas do Darpa. O que se projeta, hoje, “são interfaces homem-máquina mais naturais, que permitam que a gente trabalhe em parceria com elas, que elas entendam nossos anseios e executem tarefas muito mais complexas”.
Mais do que ter um único computador ou celular que cumpra essa tarefa, a tendência é de que essa interface paire no ar, presente em todos os objetos (que devem ser conectados à internet). Por exemplo, um aplicativo de trânsito no celular. Hoje já há tecnologia suficiente para que ele trace uma rota com menos trânsito, basta o usuário informar onde quer ir. No futuro, além de aprender a conversar, o app pode ser capaz de propor uma ida lista de compras no mercado, após detectar que é domingo e a geladeira está vazia.
Já a telepatia pode ser uma consequência das chamadas “neurotecnologias”. Hoje, já interfaces que permitem a pessoas amputadas moverem um membro protético com ondas cerebrais, por exemplo. No futuro, a tendência é “um mundo em que você pode simplesmente usar seus pensamentos para controlar ambientes, os diferentes aspectos da sua casa utilizando apenas seus sinais cerebrais”, resume o diretor do escritório de Biologia da Darpa, o neurocientista Justin Sanchez.
O professor Almir Meira, da faculdade especializada em tecnologia Fiap, explica que, hoje, já existem “leitores de ondas cerebrais” à venda para o público. A tendência é de que o desenvolvimento da inteligência artificial deixe essa relação entre mente e objeto cada vez mais natural.
“A maioria das coisas que estão previstas pelo Darpa devem acontecer, sim”, acredita o professor Almir Meira, da Fiap. Ainda que com tecnologias um pouco diferentes. “É um exercício de futurologia. Mas a tendência é de que essas tecnologias se desenvolvam bastante e melhorem a vida das pessoas”.