Esqueça o bom e velho cadeado. Já tem bicicleta que reconhece o usuário e se destrava sozinha quando ele está por perto. O esforço de enfrentar uma subida pedalando também pode estar com os dias contados. Com uma bateria portátil, qualquer bike pode virar elétrica. São invenções tecnológicas que podem ser confundidas com artigos de luxo para ciclistas endinheirados. Mas que têm um objetivo mais nobre: mudar a forma como as cidades compartilham suas bicicletas. Futuro das Cidades listou cinco novidades que compõem a chamada “quarta geração” do bikesharing, apresentadas em seminário promovido pelo banco Itaú, em São Paulo, na última terça-feira (13).
Atualmente, estima-se que mais de mil cidades no mundo compartilhem suas bicicletas. Em geral, com as mesmas regras: um patrocinador banca (e em troca exibe sua marca) e os veículos ficam em estações (de onde são liberados por um período curto, entre 30 minutos e uma hora). Em algumas cidades, como em Buenos Aires, é o próprio governo que financia a operação.
É um modelo considerado caro. Em Barcelona, por exemplo, há um déficit anual de 12 milhões de euros (cerca de R$ 43,9 mi); em Londres, na Inglaterra, o patrocinador paga 7 milhões de libras (em torno R$ 30 milhões) ao ano pela licença, segundo dados reunidos pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). E é justo por esse custo que o modelo de parceria com a iniciativa privada, que ganhou fama com a implantação do Vèlib, em Paris, ficou tão popular.
As novidades tecnológicas talvez não ameacem esse modelo, mas o complementem. Rodrigo Vitorio, da ONG Transporte Ativo, explica que “cada novidade é uma janela”, que cria novos usos para as bikes compartilhadas. Não significa que vão ser implantadas de forma uniforme, em todos os lugares do mundo. Pelo contrário, a tendência é de que as cidades encontrem respostas para encaixar a bicicleta em seus próprios sistemas de transporte coletivo.
Em Curitiba
Curitiba ainda não tem um sistema de bikesharing. A cidade chegou a ter um serviço de aluguel de bicicleta nos parques São Lourenço e Jardim Botânico e também no Centro Cívico, mas sem o foco de tornar a bicicleta um meio de transporte. Nova licitação, desta vez para um serviço de compartilhamento de bicicletas patrocinado pela iniciativa privada, está em andamento. Apenas o consórcio Bike Fácil (formado especialmente para a licitação) concorreu. Segundo a Urbs, a empresa tem até 29 de setembro para apresentar um protótipo de bicicleta e estação que serão instalados na cidade. Se homologado o contrato, a previsão é de que o sistema esteja em operação no início de 2017.
Smartbike
As estações foram uma revolução no modelo atual de bikesharing. A ideia de que as pessoas podem retirar a bicicleta em qualquer ponto do sistema dá liberdade ao usuário, que não precisa voltar para devolver o veículo. A cidade de Portland, nos EUA, deu um passo à frente, e embutiu as estações no veículo. As smartbikes vem com um computador de bordo, que se integra a um aplicativo. Pelo smartphone, o usuário localiza a bicicleta mais próxima e pode reservá-la. Para destravar, basta digitar uma senha no celular. Para devolver, é preciso apenas travar a bicicleta e informar ao aplicativo que a viagem terminou. Mas há algumas regras, para garantir que as bicicletas não sumam do mapa. Quem estacionar em um ponto prioritário (chamados hub) ganha US$ 1 de crédito para a próxima viagem. Se deixar em um lugar qualquer, é preciso pagar US$ 2. Além disso, deixar a bicicleta fora da área custa mais US$ 20 adicionais. Em seu site, a fabricante Social Bike (Sobi) anuncia que cada veículo custa pouco menos de US$ 1.000. Enquanto o modelo atual teria um custo de implantação de US$ 3 mil a US$ 4 mil por bicicleta, quando somados os gastos com as estações.
Smart-trava
O Bitlock parece um cadeado comum. Mas seu sistema integrado à internet permite tornar qualquer bicicleta em uma smartbike. Por meio da tecnologia bluetooth, a trava manda informações sobre sua localização para um aplicativo. Como na bike inteligente, o usuário consegue liberar a bicicleta ao digitar uma senha em seu smartphone, ou simplesmente chegando próximo à bicicleta - que irá reconhecê-lo. Em seu site, a startup incentiva o usuário comum a criar sua própria rede de compartilhamento. Estudantes universitários podem dividir suas próprias bicicletas com os amigos para rodar no campus, por exemplo. Mas o aplicativo tem um sistema de cobrança por cartão de crédito, o que permite que seja usado por prefeituras e pela iniciativa privada. A vantagem é o custo: US$ 129 (cerca de R$ 420) a unidade.
Pedelec
Todas as bicicletas da cidade de Birmingham, nos EUA, são elétricas em potencial. O sistema de bikesharing local trabalha com os “pedelecs”, pequenas baterias que podem ser acopladas ao veículo para dar uma “forcinha extra” na hora de pedalar. A cidade optou por gastar um pouco mais com as bikes inteligentes para convencer uma população que já sofre de sedentarismo a aderir à bicicleta, mesmo em um local quente e cheio de ladeiras.
Carrinho compartilhado
A carretinha de bicicleta não é uma ideia nova. A novidade, em Tel Aviv, é integrar o carrinho ao sistema de bicicletas compartilhadas. O bagageiro é feito sob medida para ser acoplado às bicicletas do sistema Tel.O.Fun. Mas também pode ser emprestado em separado. Outras cidades ao redor do mundo, como Oklahoma City, nos Estados Unidos, têm iniciativas similares.
GPS amigo
Mais do que um GPS, o COBI é quase uma inteligência artificial, que faz companhia ao ciclista durante a sua viagem. O gadget também funciona na lógica de transformar um veículo comum em smartbike. O aplicativo mostra a melhor rota, controla as luzes de sinalização e conta com sensores que medem velocidade, distância percorrida, direção do vento e luminosidade. Ainda dá para conectar com aplicativos de streaming de música e receber ligações pelo app. O produto é mais voltado ao usuário comum da bicicleta. Mas pode ser impulsionar modelos de compartilhamento de bicicletas para longas distância, em cidades que querem impulsionar o turismo rural, por exemplo, ou em viagens intermunicipais.
*A repórter viajou a convite do banco Itaú.
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